A Jerónimo Martins inaugurou esta quinta-feira, na Nova SBE, em Carcavelos, a “Lab Store” do Pingo Doce, uma loja onde não há “caixas de pagamento” que irá servir de laboratório para testar novas tecnologias que podem ser replicadas noutros locais mas que, para já, vai ser um “ataque” direto ao público jovem, universitário, que frequenta a universidade e vive nas redondezas.
Como é que funciona? O processo começa com o download de uma aplicação de smartphone — para já denominada Nova Pingo Doce & Go –, que se autentica pela primeira vez com uma mensagem SMS. Ao entrar na loja, o utilizador abre a porta, tipo torniquete, mostrando o smartphone a um leitor QR Code. O torniquete abre e, aí, na “app” é criado um “cesto de compras virtual”.
A compra é feita quando se retira um produto da prateleira e, ao mesmo tempo, se encosta o smartphone à etiqueta (da prateleira ou do produto), que é lida com recurso à tecnologia “contactless” NFC. Para já, essa tecnologia está apenas disponível nos smartphones com sistema operativo Android, já que a Apple (que produz os iPhone) apenas permite a utilização de tecnologia NFC com um grupo restrito de parceiros.
André Faria, “chief marketing officer” do grupo Jerónimo Martins, um dos principais responsáveis por este projeto, diz que “estamos a trabalhar” para que os iPhone também possam utilizar a tecnologia em que basta encostar o smartphone e a compra é registada. Em alternativa, na faculdade vão ser distribuídos cartões NFC que podem ser utilizados, associando indiretamente aos iPhone. Algo que também será dado a clientes não-estudantes que visitem a loja e queiram um desses cartões.
Além disso, outra alternativa é usar o smartphone para fazer “scan” do código de barras. Algo que já está disponível há muito noutras cadeias de supermercados mas que o Pingo Doce garante que “o desenho da experiência” no seu caso é diferente. Desde logo, porque é feito esse “check-in” logo no início — e o pagamento não precisa de ser num terminal Multibanco (embora estes também existam) mas, sim, com um toque na opção de pagar, na “app”.
Refeições pré-cozinhadas (frias ou quentes), latas de atum, produtos de higiene, refrigerantes, preservativos, medicamentos não sujeitos a receita médica. Tudo é muito rápido de adicionar ao cesto. Só um produto poderá parecer um pouco mais estranho: não há balanças para pesar a fruta (nem operadores de caixa para o fazer), portanto todas as peças de frutas são adicionadas individualmente — sim, uma tangerina de cada vez, uma banana de cada vez.
Depois de todas as compras recolhidas, existindo um cartão de crédito associado, o pagamento, à saída, é feito automaticamente. Caso contrário, existem terminais de pagamento comuns (para pagar com cartão). “Não há dinheiro físico” nesta loja, que está pejada de sensores e câmaras “sem ângulos mortos”, diz André Faria.
Em paralelo, a empresa está também a introduzir, em fase ainda de testes, as caixas abertas 24 horas — já está uma disponível no campus da Nova SBE, que usa visão por computador e Inteligência Artificial para que baste fazer “login”, abrir a porta, tirar o produto que se quer, fechar a porta, e o pagamento é feito de forma automática para o cartão associado.
Esta é uma loja de 250 m2 que vai ter como gerente a mais jovem gerente de todo o grupo, que tem 27 anos. Vão trabalhar 20 pessoas no espaço, sobretudo dedicadas às áreas de comida “take away” e padaria/pastelaria — mas também na área de venda, ajudando quem precisar de ajuda com o processo.
O objetivo deste projeto, que foi lançado há um ano e meio, é poder entrar e sair, concluindo o processo de compra, em um minuto. A loja está aberta das 7h30 às 21h.
Conforme os resultados apurados nesta loja-laboratório, que está aberta ao público em geral, as tecnologias e práticas que tiverem “boa aceitação, com, certeza que fará sentido estender para outras lojas”, diz Isabel Ferreira Pinto, diretora-geral do Pingo Doce, em conferência de imprensa de apresentação da loja aos jornalistas.
Com tanta tecnologia, Isabel Ferreira Pinto recusa a ideia de que esta é uma loja que não precisa de pessoas, de colaboradores. “Há uma ideia errada de que ao lançarmos esta loja, que iríamos ter poucos colaboradores”, diz a responsável, lembrando que trabalha 20 pessoas numa loja de 250 metros quadrados, especialmente viradas para as soluções de take away nas horas-pico do pequeno almoço, almoço e final da tarde.
O futuro do retalho. Como será ir às compras num “shopping” em 2028?
Até se pode comprar uma pizza e pedir a alguém que a cozinhe, como em casa. Algo que agradou a um grupo de estudantes portugueses que olhavam, com curiosidade, para a abertura da loja. Um outro estudante, alemão, olhava com interesse para a secção das massas preparadas: “já podem fechar a cantina”, diz ao Observador, o estudante queixa-se de que a cantina da faculdade não tem muita variedade, obriga a esperar muito e já há muito que não vai lá. Pelo que, para este estudante, esta deverá ser uma opção.
Sendo esta loja numa faculdade, coloca-se a questão sobre se vai haver bebidas alcoólicas ao dispor de alguns estudantes que possam ser menores de idade. “É um problema que estamos seguros que não vamos ter”, diz André Faria.
Existe uma restrição em todo o campus a bebidas de elevado teor alcoólico. Mas, no caso das cidras e cervejas, “a compra é 100% controlada”, desde logo pelas pessoas que estão na “placa de venda” e pelos seguranças (que também garantem a segurança, anti-fraude, deste processo, com o apoio de tecnologias que a empresa não revela).