Os cientistas podem não ter discursos irados nas Nações Unidas, nem insultar os líderes mundiais e, muito menos, parecer desesperados. Mas nem por isso baixam os braços ou deixam de continuar à procura de uma solução para melhorar o ambiente. E, entre os melhores investigadores do mercado, alguns deles estão ao serviço do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology, MIT). É exactamente deste centro de tecnologia que surge a bateria mais curiosa dos últimos anos.
Os carros eléctricos alimentados por bateria são muito menos poluentes do que os seus concorrentes que queimam combustíveis fósseis. Sobretudo, se a energia que os alimenta for gerada através de fontes não poluentes, idealmente renováveis. Mas, e se fosse possível conceber uma bateria que se alimentasse do dióxido de carbono (CO2) que existe em excesso na atmosfera (410 partes por milhão de CO2, em vez das 280 ppm antes da era industrial), ajudando assim a conter o efeito estufa que provoca alterações ambientais? Foi precisamente a esta questão que os homens do MIT responderam afirmativamente.
A bateria em cima da mesa no laboratório do MIT recorre a lítio enquanto metal (nestas condições, é o material sólido mais leve e menos denso na natureza), carbono e um electrólito específico criado pelos investigadores. As conclusões do trabalho foram publicadas no jornal Joule, assinado pela professora assistente Betar Gallant e pelos alunos de doutoramento Aliza Khurram e pós-doutoramento Mingfu He.
Bateria “alimenta-se” do CO2 existente
O objectivo por detrás de todo o projecto é dar um destino menos poluente às imensas quantidades de carbono que são capturadas pelas fábricas que queimam grandes quantidades de combustíveis fósseis, sejam elas destinadas à produção de electricidade, vidro, cimento ou à refinação de produtos petrolíferos. Essas fábricas retiram uma parte do carbono das suas emissões, mas fazem-no aumentando o consumo de energia em 30%. Como essa energia não provém a 100% de fontes renováveis, o exercício não é brilhante sob o ponto de vista do ambiente.
Para Gallant e a sua equipa, a ideia passa por utilizar a própria fábrica poluente e o lixo que produz para gerar o material necessário para as suas inovadoras baterias. Em vez de tentar trabalhar com baterias de lítio-dióxido de carbono (Li-CO2) que usa o CO2 enquanto gás durante a descarga, o que a obriga a recorrer a catalisadores metálicos (dispendiosos e com metais raros), a equipa do MIT recorre ao CO2 em estado líquido. Assim, consegue atingir os seus objectivos com o CO2 enquanto electrólito e um eléctrodo em carbono.
É sete vezes melhor. E vai melhorar
Além dos benefícios inerentes ao facto de utilizarem o carbono recolhido das fábricas que o produzem, estas baterias de Li-CO2 têm ainda a vantagem de atingir uma densidade energética teórica de 1.876 Wh/kg (que pode evoluir até 2.500 Wh/kg). Ou seja, sete vezes mais do que se consegue nas melhores baterias de iões de lítio da actualidade, que rondam os 256 Wh/kg.
É certo que as baterias a desenvolver pelo MIT ainda estão numa fase de protótipo, mas só a possibilidade de conseguirem garantir sete vezes mais capacidade (logo, sete vezes mais autonomia) para o mesmo peso ou, em alternativa, a mesma autonomia numa bateria sete vezes mais leve, é altamente promissor.
De momento, a bateria criada pela equipa de Gallant ainda está algo limitada pelo número de ciclos, não ultrapassando os 500, mas nem os técnicos que a criaram (nem os restantes) acreditam que seja inultrapassável. Especialmente depois de, pela primeira vez, se conseguir produzir uma bateria recarregável de Li-CO2.