Quando esta segunda-feira nove políticos catalães foram condenados a pena de prisão por terem executado o referendo sobre a independência da Catalunha, não foi preciso esperar muito até que os primeiros protestos chegassem às ruas de Barcelona. As manifestações continuam a decorrer, mas quem as organiza também começa a chegar ao centro das atenções. Desta vez, há um novo movimento, um “tsunami” anónimo, que já conseguiu mobilizar milhares de independentistas e até chamar figuras conhecidas para defenderem publicamente a sua causa, como é o caso do treinador Pep Guardiola.

É através das redes sociais — Twitter, Instagram e o Telegram — que o Tsunami Democràtic comunica com os manifestantes e já conseguiu criar impacto: na segunda-feira, o aeroporto de Barcelona foi bloqueado por milhares de pessoas, levando ao cancelamento de mais de 100 voos e ao corte de várias estradas e linhas ferroviárias. Nos manifestantes, não era raro ver um cartaz azul onde se lia: “Todos ao aeroporto”.  “Hoje fomos um tsunami. Faremos de cada mobilização uma vitória. Iniciamos um ciclo de desobediência civil não violenta e agimos para a conclusão bem-sucedida e objetivos alcançados. E amanhã vamos fazê-lo novamente ao anunciar um novo desafio”, escreveu o Tsunami Democràtic no Twitter.

Esta segunda-feira, milhares de manifestantes bloquearam o aeroporto de Barcelona

Mas, quem são os responsáveis por este movimento e o que é que ele defende? A primeira pergunta é, neste momento, mais difícil de responder do que a segunda. O Tsunami Democràtic é um movimento que defende a autodeterminação e a independência da Catalunha e diz estar disposto a lutar e a fazer o que for preciso para o conseguir. Mas, acrescenta, sempre “sem violência”.

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“Faremos isto pacificamente, com serenidade e convicção. Faremos isto democraticamente, com determinação e de maneira organizada. Os nossos ideais defendem as liberdades inalienáveis ​​e procuram a justiça social. Servimos a luta não violenta e a desobediência civil como estratégias transformadoras. Sem violência, mas com toda a firmeza: autocrítica, ironia, criatividade, diversidade, imperfeição e tudo o que promove um movimento coletivo e transversal serão as nossas ferramentas”, referem num comunicado de apresentação, em setembro deste ano.

O Tsuami Democràtic fez a sua “estreia” com a notícia da sentença e anunciou mais respostas para os próximos dias, mas foi a 2 de setembro, pelas 9h12 locais, que a sua primeira mensagem nasceu. “Somos uma nova organização. Somos uma campanha constante, continua e inesgotável. Há resposta. Há estratégia. Começa uma nova era e tu és o protagonista. Tu és o Tsunami”, escreviam no Twitter. Esta primeira mensagem, escreve o El Mundo, foi partilhada por Oriol Junqueras, Carles Puigdemont e Quim Torra. Em menos de uma hora, todos os líderes independentistas ajudaram a partilhar a mensagem.

Quem está por detrás deste movimento permanece anónimo, embora o grupo indique que faz parte “da sociedade civil” e se perceba que a estrutura deste grupo será semelhante à que ocupou as escolas no dia do referendo da Catalunha: uma rede de pessoas aparentemente independentes, em que todos têm uma tarefa e procuram outras pessoas para comunicarem a sua mensagem. Além disso, o grupo conta com a aprovação do Juntos Pela Catalunha (JxCat), da Òmnium Cultural e da Assembleia Nacional da Catalunha.

Segundo dia de manifestações na Catalunha. Tensão regressa a Barcelona

Mas há algumas notícias que foram surgindo quanto à identidade dos responsáveis deste movimento. Segundo o El País, que cita fontes policiais, este movimento nasceu depois de uma reunião realizada no início de setembro entre os principais líderes independentistas em Genebra, na Suíça, que contou com a presença do ex-presidente do governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, e do seu substituto, Quim Torra. O ministro interino do Interior, Fernando Grande-Marlaska, confirmou que as autoridades estão a investigar quem está por detrás deste movimento.

Esta segunda-feira, o movimento anunciou mais uma forma para coordenar as manifestações e ações de rua: uma app. Mas não é uma app qualquer. De acordo com os jornais espanhóis, esta aplicação não está disponível na Apple Store ou na Play Store e só vai poder ser acedida através de um convite, de forma a evitar a presença de infiltrados que pretendam evitar ou boicotar os protestos.

Esta app vai permitir várias ações aos independentistas, desde a divulgação dos protestos que estão a decorrer perto do local do utilizador, bem como saber onde está a polícia, inscrever-se, com horários e funções definidas, nas futuras ações e até especificar o tipo de veículos que poderão estar ao serviço durante as manifestações. No seu site, o Tsuami Democràtic refere que este é “um espaço para partilhar a disponibilidade, tempo e recursos”, garantindo que quem se registar não precisa de revelar nenhum dado. “É de acesso anónimo e privado”, sublinha.

O movimento garante ainda que este “tsunami” não tem prazo de validade: “Nem uma semana nem três meses. Durará o tempo que for preciso para se alcançarem os objetivos”, avisaram antes da sentença, acrescentando que a resposta que organizaram “pretende gerar uma situação de crise generalizada no Estado espanhol que se vai prolongar no tempo”.