Seria uma inovação na bancada do PSD, mas Rui Rio já provou que liga pouco à tradição. O presidente do PSD está a ponderar acumular as funções de líder do partido com as de líder parlamentar, apurou o Observador junto de dirigentes nacionais do partido. De acordo com as mesmas fontes, Rui Rio ocuparia o cargo apenas até voltar a ser reeleito em diretas e, após ser entronizado, promoveria novas eleições na bancada. O líder do PSD e o seu núcleo duro político acreditam que isto evitaria divisões desnecessárias na bancada, daria uma vitória clara a Rui Rio junto dos seus deputados (embora haja críticos nas fileiras parlamentares, tem do seu lado, pelo menos, mais de dois terços da bancada) e ainda se afirmava como o rosto do PSD na oposição a António Costa nos debates quinzenais. Ou seja, esvaziaria aquela que é considerada a mais-valia de Luís Montenegro: o ataque a Costa.

Foi Luís Marques Mendes quem começou por lançar as pistas para esta hipótese, no seu comentário semanal na SIC. “É uma hipótese que tem lógica”, destaca um dirigente do PSD ao Observador, sublinhando que essa hipótese só se coloca no cenário de o líder se recandidatar. Se decidir não o fazer, hipótese pouco provável, o presidente do PSD — que não anseia exercer a função de deputado — deverá abandonar o hemiciclo, portanto, a questão nem se põe. Esta quarta-feira à tarde, Rui Rio reúne a Comissão Política Nacional, órgão de direção alargada, mas não deverá comunicar já a sua decisão de se recandidatar. Nem sequer estão previstas declarações do líder à comunicação social. A mesma fonte acrescenta que quando, ou se, Rui Rio anunciar a recandidatura, deverá fazê-lo num momento próprio, e não à boleia de uma reunião da comissão política, que decorre à porta fechada na sede do partido. O truque é aguardar mais uns dias, mantendo o seu timing, e deixando os críticos em silêncio, à espera.

Mas com Rui Rio a enfrentar quinzenalmente António Costa — com a dureza que estes debates muitas vezes têm (embora não precisasse de ser líder parlamentar para o fazer) — os seus próximos acreditam que esvaziaria aquele que é o principal elemento diferenciador destacado por Luís Montenegro: a relação com o PS. O objetivo seria tirar margem para que Montenegro pudesse dizer que o PSD de Rio é um “PS 2” estando o líder nos debates quinzenais a afrontar o primeiro-ministro. E de caminho, ainda antes das diretas, poder ter no currículo um voto contra o orçamento do governo PS para 2020 (que Costa quer resolver ainda este ano).

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Rui Rio teria outra vantagem em ser ele o líder parlamentar: evitaria divisões na bancada entre os seus próprios apoiantes. Nesse grupo há quem prefira Pedro Rodrigues e há quem prefira outros nomes como André Coelho Lima ou mesmo Adão Silva. O Observador sabe que o tema tem corrido nos corredores, mas ainda não há diligências oficiais de nenhum dos protocandidatos no sentido de recolher formalmente apoios para uma candidatura à liderança da bancada. Certo é que, entre eles, há quem não veja com bons olhos a hipótese de Rio chamar a si esse papel: “Que imagem é que passaria para fora? A imagem de que não há quadros numa bancada que ele próprio escolheu?”, questiona uma fonte.

Embora a bancada seja pró-Rio, há entre os deputados da próxima legislatura velhos críticos  (como por exemplo, Pedro Alves ou Pedro Pinto) e novos-críticos (como João Moura, que ainda na reunião da distrital de Santarém desta terça-feira à noite deixou claro que iria apoiar Luís Montenegro). Por tudo isto, há divisões que se vão adensar assim que a corrida para as diretas começar — divisões que Rio quererá evitar.

Rio tem a esmagadora maioria da bancada do seu lado e a verdade é que, se for ele a avançar para a liderança da bancada, ninguém se atreve a avançar contra. Além disso, teria sempre um resultado superior a Fernando Negrão, que nem sequer teve metade dos votos dos companheiros de bancada. Podia funcionar como mais um sinal aos militantes antes das diretas: a bancada eleita para os próximos quatro anos é a “sua” bancada.

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O próprio presidente do partido estará inclinado neste momento em continuar na liderança. Se o fizer, a estratégia será a de não antecipar prazos. Rui Rio não tem pressa, por isso é que, até agora, não marcou o Conselho Nacional, que muitas vezes é logo na semana seguinte ao ato eleitoral. Ao invés disso, tirando uma comissão permanente logo no dia seguinte (órgão de cúpula), Rio esperou 10 dias e só esta quarta-feira vai reunir a Comissão Política Nacional. E ainda não convocou o Conselho Nacional — órgão máximo entre congressos — embora a convocatória deva estar para breve.

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É preciso que haja um Conselho Nacional (pode já ser o próximo ou um outro convocado para o efeito) para que possam ser convocadas diretas e para que seja aprovado o calendário eleitoral, que inclui o congresso que vai entronizar o novo líder. A ideia de o próprio calendário seguir os trâmites normais (diretas em janeiro e congresso em fevereiro) é também uma maneira de Rui Rio provar que, na sua leitura, nada de extraordinário aconteceu nas legislativas.

Luís Montenegro também disse na última sexta-feira, em Espinho, não estar preocupado com o calendário: “Eu sou candidato nas próximas diretas. Para mim é indiferente se é na última semana de dezembro, na primeira de janeiro ou na segunda de janeiro.” Mas um Conselho Nacional menos colado à noite eleitoral, também é do interesse de Rio no sentido em que, quanto mais para a frente for o calendário, o tema de conversa deixa de ser apenas e só o resultado eleitoral, para passar a ser também o novo governo e os passos que se seguem em termos de governação — a Assembleia da República vai tomar posse para a semana, seguindo-se o debate do programa de Governo e, depois, o Orçamento do Estado.