O diretor da Cooperação Sul-Sul da Organização das Nações Unidas (ONU) considera que Portugal tem um “papel essencial” nos modelos de cooperação triangular, elogiando a diplomacia nacional nos vários contextos regionais.

Portugal tem muito para contribuir, é uma sociedade que tem realizado uma transição democrática exemplar, também através da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [CPLP]”, afirmou à agência Lusa Jorge Chediek.

Para Jorge Chediek, Portugal “é um ator muito importante na cooperação triangular” porque é um “país muito ativo” em vários espaços diplomáticos, como é o caso do espaço ibero-americano, que é uma das regiões que tem maior desenvolvimento institucional da cooperação Sul-Sul”. “É um país com grande liderança em termos da cooperação triangular e do apoio político e institucional à cooperação Sul-Sul”, disse o diplomata argentino.

Jorge Chediek defende ainda que o modelo de apoio entre os países de desenvolvimento tem tendência a aumentar e não está a ser afetado pelo aumento de discursos nacionalistas.

“[A] cooperação Sul-Sul é um elemento chave para atingir a agenda global 2030”, que estabelece os objetivos de desenvolvimento sustentável para todos os países, em matérias sociais, políticos, económicos e ambientais, afirmou, em entrevista à agência Lusa, Jorge Chediek, diretor do Gabinete de Cooperação Sul-Sul das Nações Unidas.

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A cooperação Sul-Sul corresponde a projetos de apoio mútuo entre países em vias de desenvolvimento, ao contrário do que se verifica no modelo Norte-Sul (dos países mais ricos para os que estão em desenvolvimento).

Durante muitos anos, a cooperação Sul-Sul foi primordialmente um assunto político: era uma ideia dos países em desenvolvimento cooperarem entre eles como uma alternativa ao modelo Norte-Sul que tinha elementos que eles achavam de legado colonial ou imperialistas”, numa lógica herdeira da Guerra Fria, explicou Jorge Chediek.

O diretor do gabinete da ONU, que esteve em Lisboa para um encontro sobre cooperação triangular, acrescentou sobre a cooperação Sul-Sul: “tentamos colaborar entre nós sem interesses ideológicos e em nome da solidariedade”.

Durante o século XX, o número de nações em desenvolvimento que passaram para um estatuto de países ricos foi muito pequeno, mas, “neste século, a situação mudou”, disse Chediek, dando o exemplo de casos como “a China que tirou 800 milhões da pobreza” e fez “crescer a sua economia 170 vezes nos últimos 60 anos”. E o diplomata argentino deu outros exemplos: “o Brasil conseguiu eliminar a fome” e a “Índia tirou 250 milhões da pobreza”.

Esses países que deram o salto de desenvolvimento mostram hoje “interesse em partilhar a sua experiência com outros países”, comprometendo “recursos próprios” nesses projetos de cooperação, salientou. A cooperação Sul-Sul, frisou, “expandiu-se dramaticamente”, muitas vezes com apoio de países terceiros, que concedem suporte técnico – a cooperação triangular.

Por definição os países em desenvolvimento têm problemas económicos e sociais sérios” e é “difícil justificar junto da população utilizar recursos para ajudar outros países e outras sociedades”, notou o diplomata.

Apesar disso, a ascensão de um discurso nacionalista nalguns países em desenvolvimento, como a Turquia, Índia, Brasil ou Filipinas, não diminui o esforço desses governos neste modelo de cooperação. A aplicação desses “recursos gera bem-estar global” no quadro da “agenda planetária”, sublinhou Chediek. Esses países consideram que a “integração internacional é win-win e é um elemento de liderança” dos próprios governos no contexto mundial, prosseguiu.

“A expansão da sociedade civil é um fenómeno global e não apenas nos países desenvolvidos” e, embora existam zonas em que há uma “sociedade civil mais fraca e pouco comprometida com as questões globais”, a tendência é para um maior envolvimento das pessoas, com “empresários, instituições e organizadas”, empenhadas em projetos de cooperação, referiu ainda.

Por outro lado, a regra da cooperação Sul-Sul de não ingerência nas questões internas favorece uma maior recetividade por parte dos países. Neste modelo, há “cooperação e amizade sem condicionalismos políticos”, porque “respeita-se a situação interna de cada país”, vincou Jorge Chediek.