Notas inéditas de entrevistas feitas pelo procurador Robert Mueller no âmbito investigação à alegada interferência russa na campanha eleitoral de Donald Trump para as presidenciais de 2016 foram divulgadas este fim de semana pela CNN e BuzzFeed, revelando novos dados à polémica história. Entre as centenas de páginas de notas de entrevistas e emails do processo de investigação do FBI, a CNN dá agora conta de que Paul Manafort, antigo chefe de campanha de Trump, impulsionou a teoria de que teria sido a Ucrânia, e não a Rússia, a aceder aos servidores do comité central do Partido Democrata. E que Donald Trump e outros agentes de topo da sua campanha presidencial tentaram aceder de todas as maneiras aos emails hackeados de Hillary Clinton.

A ideia de que os chefes de campanha de Trump impulsionaram a teoria de que tinha sido a Ucrânia, e não a Rússia, a aceder aos servidores e dos democratas ganha novos contornos nos últimos meses, uma vez que a motivação que está por detrás do processo de impeachment de que Trump está a ser alvo se prende com o recente escândalo ligado à Ucrânia, que dá conta de uma alegada pressão de Trump junto do Presidente Volodymyr Zelenski para que este lançasse uma investigação oficial à empresa do filho de Joe Biden em troca de financiamento e apoio militar. Joe Biden concorre nas primárias para a candidatura dos democratas à presidência dos EUA em 2020.

Em causa na divulgação destas notas das entrevistas da investigação de Mueller está uma longa batalha judicial da CNN para aceder aos documentos da investigação, que levou a que o Departamento de Justiça fosse obrigado a divulgar as notas. A divulgação dos documentos, este fim de semana, marca assim a primeira divulgação pública do material de investigação do relatório Mueller (fora do sigilo dos tribunais), sendo que, por ordem do juiz, a CNN e o BuzzFeed vão continuar a ter acesso a novos documentos e a poder divulgá-los todos os meses.

Nos documentos agora divulgados encontram-se as notas das entrevistas feitas pelos investigadores a Rick Gates, vice-presidente da campanha de Trump, onde Gates afirmava que Paul Manafort especulava sobre a responsabilidade da Ucrânia na usurpação da correspondência democrata. Gates afirmou na investigação Mueller que Manafort especulou sobre a responsabilidade da Ucrânia na invasão dos computadores ao mesmo tempo que Trump tentava capitalizar a polémica dos emails de Hillary hackeados.

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Mais: novos documentos mostram que Steve Bannon recebeu uma proposta para obter os emails de Clinton e que Donald Trump esteve sempre a par da tarefa, e era o primeiro a ordenar à sua equipa para “arranjarem os emails”. Um dos momentos em que isso aconteceu terá sido a bordo de um avião, numa viagem de campanha, em que, segundo Gates, Trump levantou a voz para gritar “get the emails!“. Semanas depois, Trump diria que mais emails iriam ser hackeados mas Gates não explica como Trump sabia disso.

“Rick Gates recordou um momento da campanha em que Trump disse para arranjar os emails, e que Michael Flynn disse que poderia recorrer à inteligência para o fazer”, lê-se nas notas de resumo da entrevista da equipa de Mueller a Gates em abril de 2018. “Flynn era quem tinha mais contactos na Rússia e, por isso, estava na melhor posição para arranjar os emails”, lê-se ainda na entrevista onde Rick Gates mostra como vários conselheiros da campanha de Trump pressionaram e foram pressionados para tentar aceder aos documentos hackeados dos democratas.

Segundo as notas das entrevistas, a equipa da campanha de Trump ficou muito satisfeita com a divulgação dos emails de Clinton pela WikiLeaks, semanas antes das eleições, embora Trump tenha sido aconselhado a não reagir, e a deixar o assunto fluir por si só. “Eles vão tentar dizer que os russos trabalharam com a WikiLeaks para nos ajudar a ganhar”, terá dito Steve Bannon, conselheiro de Trump na altura, a Jared Kushner, genro de Trump.

A investigação de Mueller, que foi concluída em março, deu origem a um relatório que dá como insuficientes as evidências de que tenha havido conspiração entre a campanha de Trump e a Rússia para ganhar as eleições. No relatório não se concluiu se houve ou não, da parte de Trump, obstruções à justiça, e ficou concluído que o agora presidente dos Estados Unidos não cometeu nenhum crime.

Robert Mueller conclui investigação sobre Donald Trump e Rússia. Relatório já foi entregue