Milhares de independentistas catalães protestaram esta segunda-feira contra a presença do Rei Felipe VI em Barcelona, bloqueando a entrada no Palácio de Congressos, onde se realizou a cerimónia de entrega dos prémios Princesa de Girona. O diário madrileno ABC dá conta que já se registaram agressões a soco à entrada do recinto.

Imagens veiculadas nas redes sociais por vários políticos espanhóis mostram um ambiente de intimidação dos manifestantes para com as pessoas que pretendiam aceder ao local da cerimónia. “O Rei espanhol não é bem-vindo na Catalunha”, “Nem Rei nem medo” e “Barcelona será o pesadelo de Felipe VI” eram algumas das frases que podiam ler-se nos cartazes dos manifestantes, enquanto outros seguravam fotos do rei viradas do avesso.

Desde a chegada de Felipe VI no domingo, o centro de congressos está protegido por um forte dispositivo policial, que cortou a avenida Diagonal de Barcelona, situada nas proximidades do local da cerimónia e importante via de acesso à cidade.

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Esta é a primeira visita de Felipe VI à Catalunha após a condenação em 14 de outubro de nove líderes independentistas envolvidos na tentativa de independência da região a penas que vão até um máximo de 13 anos de prisão.

Essa condenação originou uma onda de manifestações, algumas das quais degeneraram em confrontos violentos entre os manifestantes e a Polícia Nacional e a polícia regional (Mossos d’Esquadra).

Felipe VI: “Hoje não há lugar para a intolerância ou violência contra os outros”

Protegido dos protestos pelo forte cordão policial, o Rei Felipe VI e a princesa Leonor — herdeira da Coroa Espanhola que detém precisamente o título de Princesa de Girona — discursaram com apelos à união e sublinhando a importância da presença da família real em Barcelona.

“Há ocasiões em que as presenças adquirem um significado mais importante que as palavras, em que as atitudes expressam convicções. Hoje é uma dessas ocasiões. Centenas de jovens da Catalunha e de Espanha assistem a este momento. Temos pessoas muito representativas de grande relevância na nossa sociedade”, afirmou Felipe VI.

“Em frente a um povo que decidiu há 40 anos reencontrar-se para conviver juntos e em liberdade sob princípios democráticos, de acordo com a sua diversidade, para superar o passado e construir uma sociedade moderna integrada na Europa e aberta ao mundo”, continuou.

O rei dedicou o seu discurso a elogiar a Catalunha enquanto parte de Espanha unida ao resto do país: “Naquele desejo democrático de não ficar à margem da evolução dos tempos, o contributo da Catalunha foi inspirador para o resto de Espanha, uma Catalunha orgulhosa dos seus sinais de identidade, construtiva e solidária, uma Catalunha em que o esforço, a solidariedade, o respeito e o espírito cívico enriqueceram a sociedade democrática de que hoje desfrutamos.”

“Isso representa o melhor da história da Catalunha. Na realidade de hoje não têm lugar nem a violência nem a intolerância nem o menosprezo pelos outros”, sublinhou.

A princesa Leonor, que falou pela primeira vez num ato da Fundação Princesa de Girona, garantiu que a Catalunha tem um “lugar especial” no seu coração.

“É a primeira vez que falo num ato da [Fundação] Princesa de Girona. É uma honra para mim, porque temos quase a mesma idade. Quero felicitar os premiados, deste ano e dos anos anteriores. Formam uma grande família que continuará a crescer graças à vossa generosidade. São um exemplo para os jovens de toda a Espanha”, disse a princesa, de 14 anos.

“Os nossos pais falaram-nos da Catalunha. Graças a eles, sabemos mais da história e cultura catalãs. Esta terra, Catalunha, ocupará sempre um lugar especial no meu coração”, assinalou.

Rei é alvo da violência dos manifestantes

A violência na região colocou a Catalunha no centro do debate político a poucos dias das eleições legislativas do próximo domingo.

O Rei de Espanha é um alvo privilegiado dos independentistas catalães após o seu discurso em 13 de outubro de 2017, no qual pediu para “garantir a ordem constitucional” face à tentativa de secessão da Catalunha.

Os manifestantes reprovam o facto de o chefe de Estado espanhol não se ter pronunciado acerca da violência policial desencadeada pelo referendo de independência catalã, realizado a 1 de outubro de 2017 e proibido pela justiça espanhola.

“O Rei ficou [em 3 de outubro de 2017] do lado da polícia que havia espancado as pessoas que votaram. Protestamos para que não volte mais à Catalunha, quanto mais depois da sentença totalmente injusta” contra os dirigentes independentistas, afirmou Jose Ligero, de 45 anos, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

O líder da Câmara Municipal de Barcelona, Josep Bou, do Partido Popular (PP), foi injuriado de “fascista” e “provocador” à chegada ao Palácio de Congressos, insultos aos quais respondeu: “Sou tão catalão quanto vocês”. O líder político catalão foi posteriormente ajudado por um polícia civil a aceder ao centro de congressos por outro local.

A entrada do Polo Club, localizado na avenida Marañon, foi também bloqueada para impedir que os convidados saíssem do Palácio de Congressos, o que causou momentos tensos com as autoridades catalãs.