A presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC) defendeu esta sexta-feira que a jovem sem-abrigo que deitou na terça-feira o filho recém-nascido no lixo, em Lisboa, expôs o bebé ao abandono sem querer matá-lo.

Segundo Dulce Rocha, a mãe, de 22 anos, estava numa situação de vulnerabilidade que a levou a abandonar o filho.

“Esta mãe está muito sozinha, muito desesperada, sem apoio familiar, senão não tinha praticado o que praticou”, disse a magistrada à Lusa, considerando que o crime em causa é “exposição ao abandono” e não tentativa de homicídio.

A presidente do IAC entende que “não há indícios”, como lesões ou sinais de asfixia, que apontem para tentativa de homicídio.

A mãe, detida esta sexta-feira de madrugada em Lisboa e ouvida em primeiro interrogatório judicial, vai aguardar julgamento em prisão preventiva, indiciada da prática de homicídio qualificado na forma tentada, indicou fonte da PJ, que conduziu as investigações.

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Dulce Rocha reiterou que o bebé deve ser encaminhado para adoção e entregue a uma família que o ame, saiba cuidar dele e “não coloque a criança novamente em perigo”.

“A mãe não está em condições de cuidar do bebé e a sua família também não cuidou desta mãe”, afirmou, sustentando que a jovem “tem de ser muito acompanhada” e necessita de uma casa.

Dulce Rocha pede uma maior “cooperação institucional” na sinalização, acompanhamento e resolução de casos envolvendo pessoas sem-abrigo.

O IAC divulgou esta sexta-feira um comunicado em que alerta “para a necessidade de uma reflexão humanizada sobre as vulnerabilidades das pessoas em situação de sem-abrigo” e defende “uma ação integrada, concertada nos diversos domínios, para uma maior eficácia na inclusão destas pessoas”.

“Com a averiguação que tem sido levada a cabo pelas autoridades e entidades competentes e com os novos elementos noticiados, o IAC aguarda as decisões que forem entendidas adequadas pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Família e Menores de Lisboa”, adianta o comunicado.

De acordo com a PJ, a mãe do recém-nascido, que não apresentava sinais de consumos de drogas ou perturbações mentais, agiu sozinha e nunca revelou a gravidez a ninguém, vivendo numa situação “muito precária na via pública”. O parto foi feito na rua, nas imediações do local onde foi encontrada a criança.

As autoridades receberam pelas 17h30 de terça-feira o alerta para um recém-nascido encontrado no lixo na Avenida Infante D. Henrique, perto de Santa Apolónia, junto a um estabelecimento de diversão noturna.

O recém-nascido foi descoberto por um sem-abrigo, ainda com vestígios do cordão umbilical. O bebé, saudável, recebeu cuidados hospitalares e poderá ter alta em breve.