No mundo, há poucas dezenas de startups ligadas à saúde que são unicórnios (empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares). A Orcam é uma delas. Só há esperança de vir a ter lucro em 2020, mas já chegou a Portugal com o produto que criou: uma mini câmara que utiliza a inteligência artificial que descreve o o mundo a pessoas cegas ou com problemas de visão
Há dois modelos, a OrCam My Reader e a OrCamMy Eye 2. Apesar de serem uma tecnologia inovadora — daí o potencial da empresa — a maior desvantagem é no preço: custam 3500 e 4500 euros, respetivamente. O lançamento em Portugal foi feito no Dia Mundial da Visão (10 de outubro). Como contou ao Observador Fabio Rodriguez, responsável de Desenvolvimento de Negócio da Península Ibérica, atualmente já venderam “dezenas de milhares de aparelhos Orcam em 25 línguas e 48 países”.
À semelhança de outras inteligências artificiais, como a da Google, este aparelho utiliza um software que fala com o utilizador em português de Portugal. Contudo, a principal diferença é que oferece mais garantias de privacidade sendo todo o processamento necessário para a leitura automática feita no aparelho. Há a opção de se conectar à Internet, mas é apenas para poder receber as atualizações que melhoram as funcionalidades.
[Um vídeo promocional da OrCam que mostra como uma versão da anterior do MyEye utiliza a tecnologia para facilitar a vida a invisuais]
O dispositivo pesa apenas 22,5 gramas e adere magneticamente às hastes dos óculos através de uma fita de plástico. Depois, através de toques e deslizes no dispositivo, diz ao utilizador o que está a ver. Apontando para um livro ou poster na parede o aparelho começa a ler o texto para que aponta. Além disso, pode memorizar a cara de pessoas para lhe dizer quem está a ver.
Apesar de ter como público alvo pessoas cegas, como explica Rodriguez, a OrCam também é pensada para ajudar pessoas disléxicas ou analfabetas. No fim, o objetivo deste produto é facilitar a interpretação do mundo para quem não pode contar a 100% com a visão.
Do que pudemos experimentar, apesar de o aparelho fazer o que promete, a OrCamMy Eye 2 tem alguns defeitos. A ativação do dispositivo, quando não está ligado, não é instantânea (demora alguns minutos) e, se estiver a apontar ou a olhar para objetos pouco iluminados e com sombras não dá resultados sempre corretos. Apesar de erros mais engraçados — como termos carregado no dispositivo para dizer o que estava à nossa frente e ter dito “uma criança” quando era uma colega adulta não muito alta — mostrou que facilita a vida a quem precisa. Contudo é bom relembrar que tudo isto exige o pagamento de um preço bem avultado.
O look da OrCam não é muito diferente do Google Glass, o percursor falhado do que podem vir a ser os primeiros “óculos inteligentes” da Apple. A tecnologia que utiliza, para contar o dinheiro que está à sua frente ou ler códigos de barras, alia a inteligência artificial ao machine learning. Ou seja, supostamente vai melhorando com a utilização. A OrCam afirma que tem mais de 200 empregados só a trabalhar em desenvolvimento.
A chegada da venda de produtos da OrCam em Portugal acontece nove anos depois da empresa ter sido fundada por Ziv Aviram, presidente executivo, e Amnon Shashua, diretor tecnológico. Em 2013, começaram os primeiros testes ao produto e, em 2015, é lançada a primeira versão. A versão em português europeu ficou disponível este ano e, em Portugal, a empresa vende o produto através de distribuidores.