O terramoto político em torno da investigação do assassínio da jornalista Daphne Caruana Galizia em 2017 agravou-se esta quarta-feira com a confirmação da detenção desde a manhã de terça-feira do ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro, Keith Schembri.
Em paralelo, foi também detido o médico Adrian Vela, médico pessoal do empresário Yorgen Fenech, detido na semana passada a bordo do seu iate quando tentava fugir do país e acusado de ser o instigador do crime.
Caruana Galizia, que investigava a corrupção nas altas esferas da política e dos negócios em Malta, foi assassinada aos 53 anos com uma bomba colocada na sua viatura em 16 de outubro de 2017.
“Schembri está sob detenção e passou a noite de terça-feira sob custódia policial”, confirmou esta quarta-feira o diário Times of Malta.
Os investigadores têm 48 horas para interrogar um suspeito sob detenção sem apresentar acusações. Depois devem libertá-lo sem acusações ou sob fiança em caso contrário.
A crise política agravou-se terça-feira com a demissão de dois ministros do governo trabalhista horas após o primeiro-ministro, Joseph Muscat, anunciar a renúncia do seu chefe de gabinete.
O ministro do Turismo Conrad Mizzi anunciou a renúncia ao cargo apenas um dia após assegurar aos ‘media’ que não tomaria essa decisão. Em simultâneo, o titular da Economia, Chris Cardona, disse que se “autossuspendia” de funções até à conclusão das investigações sobre o crime.
Face aos novos desenvolvimentos, centenas de pessoas concentraram-se frente ao parlamento de La Valetta gritando “Vergonha” e “assassinos”, e com cartazes como “Joseph (Muscat), és o próximo”.
A multidão, que lançou ovos e moedas em direção a diversos veículos oficiais, quando abandonavam o edifício, também ecoaram “Daphne tinha razão”.
Schembri foi acusado de corrupção pela própria Caruana Galizia, a jornalista de investigação e segundo fontes citadas pelo Times of Malta o empresário Yorgen Fenech, voltou a relacioná-lo após a sua detenção com casos de corrupção e com este assassínio.
A jornalista Caruana Galizia também investigava a relação da classe política maltesa, incluindo o primeiro-ministro e sua mulher, com os Papéis do Panamá e outros casos de corrupção.
O caso ameaça atingir o próprio Muscat, que na terça-feira admitiu novas consequências da investigação. “Demito-me se existir alguma forma de relação entre mim e o assassínio”, apesar de insistir que “nunca” fez “vista grossa” perante a corrupção, afirmou na ocasião.
Por sua vez, Fenech é um dos mais importantes empresários do país insular, dono do fundo secreto do Dubai “17 Black” e acionista da companhia da central elétrica Electrogas, que foi mencionada nos Papéis do Panamá como o veículo para depositar fundos em empresas secretas desse país e propriedade de Mizzi e Schembri.
Mizzi, anterior ministro da Energia, foi responsável pela concessão do contrato à Electrogas e a construção da central elétrica.
Um dia antes da detenção de Fenech, o primeiro-ministro ofereceu o indulto presidencial a um suposto intermediário no assassínio da jornalista, mais tarde identificado como Melvin Theuma, em troca da sua colaboração com as autoridades.
Apesar de o primeiro-ministro ter oferecido um milhão de euros para informações sobre o atentado, numa tentativa de apaziguar o escândalo, os filhos da jornalista, Matthew, Andrew e Paul, emitiram fortes acusações ao governo de Malta e definiram o país como “mafioso”.
Exigiram ainda a demissão de Muscat e de outros altos responsáveis do Estado, ao considerá-los responsáveis pela impunidade que, na sua perspetiva, se manifesta perante o crime e as irregularidades.