Os veículos eléctricos, à semelhança dos seus pares a gasolina, oferecem propostas de todos os tamanhos e feitios, com diferentes níveis de potência, de luxo e, claro está, de preço. E se há exemplares com motor de combustão que colocam ênfase nas emoções, como os Ferrari e Lamborghini, há igualmente modelos a bateria capazes de deixar de boca aberta até estes coupés italianos, como é o caso do Rimac C_Two e o futuro Tesla Roadster.
Mas, para poderem ser considerados uma alternativa válida aos automóveis com blocos térmicos, os eléctricos têm de se posicionar como propostas acessíveis e com um nível respeitável de prestações e autonomia. Ou seja, é necessário que surjam eléctricos com preços similares aos do Renault Clio ou Volkswagen Golf a gasolina, modelos que são os mais vendidos nos respectivos segmentos, pois só assim é possível democratizar esta tecnologia. Sucede que a oferta de modelos eléctricos pequenos e baratos, mas com substância, está mais próxima do que imagina.
E que tal um citadino por cerca de 18.000€?
Entre todos os veículos zero emissões que já ensaiámos e que estão disponíveis no mercado, a possibilidade de ter um citadino eléctrico por apenas 18.000€ pareceu-nos entusiasmante. Obviamente, não é um Tesla, nem sequer um Nissan Leaf ou mesmo um Renault Zoe, um Peugeot e-208 ou um Opel Corsa-e. Mas todos estes exigem um investimento mínimo próximo de 30.000€ (um pouco mais para o Tesla Model 3), o que concede ao citadino uma vantagem entre 12.000 e 14.000€, o que é obra num veículo deste segmento.
O modelo a que nos referimos é o novo Seat Mii Electric, o primeiro modelo a bateria da marca espanhola. Não tem ainda preço previsto para o nosso país, mas apurámos, junto dos responsáveis espanhóis, que a política de preços será similar em toda a Europa, como aliás fica comprovado pelo facto de em Espanha e na Alemanha o preço diferir em apenas 540 euros. Com as ajudas do fabricante, que rondam em ambos os casos 2.380€, o Mii a bateria é proposto por 17.730€ no seu país de origem, e 18.270€ na Alemanha. Isto ainda antes dos incentivos do país.
Se a este preço subtrairmos o IVA, que as empresas podem recuperar (e é bom lembrar que as empresas são quem mais compra veículos eléctricos pelas vantagens que lhes são concedidas), então o Seat eléctrico ficará por um valor próximo dos 14.500€, preço que começa a ser apelativo. E se ainda considerarmos os incentivos do Governo, que em Portugal são de 3.000€ para particulares e 2.250€ para empresas, então o Mii Electric começa a ser uma opção a considerar.
Será que o Mii Electric se despacha?
Conduzimos o Seat a bateria nos arredores de Madrid, num primeiro contacto que começava por um longo percurso em auto-estrada, que não é o terreno ideal para o Mii Electric. Limitado a 130 km/h, para estender a autonomia permitida pela bateria de 36,8 kWh (32,3 kWh úteis, com um peso de 248 kg), o Seat começou por registar médias entre 14 e 15 kWh/100 km, a circular a 100 km/h, valor que depois desceu para entre 12 e 13 kWh no regresso, já em estrada e dentro dos limites, ou seja, até 90 km/h. Pena que não fosse possível rodar em meio urbano, o terreno de eleição para os carros eléctricos, onde a autonomia tende a aumentar. Ou seja, garantindo intervalos entre recargas entre 230 e 270 km, o que não é nada mau para um modelo que anuncia 260 km em WLTP.
O motor de 83 cv e 212 Nm de binário assegura-lhe um dinamismo aceitável e muito melhor do que anteriormente, com o antigo motor a gasolina, necessitando de 3,9 segundos para ir de 0-50 km/h. O habitáculo aceita facilmente quatro adultos, um pouco à custa da bagageira que oferece 251 litros, ou 923 com o rebatimento do banco posterior.
Para recarregar, o Mii aceita carga normal (em AC até 7,2 kW, com a Seat a oferecer a Wallbox) ou rápida (em DC até 40 kW, provavelmente por a bateria ser refrigerada a ar), o que lhe permite ir de 0-80% em menos de 60 minutos.
Os citadinos são uma alternativa à concorrência?
O Mii Electric – que não vai estar sozinho, uma vez que também a Volkswagen e a Skoda vão surgir com os seus e-up! e Citigoe iV – oferece um pacote que irá sensibilizar muitos potenciais utilizadores de veículos eléctricos a bateria. Com 260 km de autonomia e um preço que rondará os 18.000€ – a Seat Portugal revelará a seu tempo os valores definitivos de comercialização –, o construtor espanhol passa a disponibilizar uma das melhores relações preço/autonomia do mercado. É claro que os Tesla com 500 ou 600 km entre recargas estão noutro campeonato, mas um dos modelos que mais vende em Portugal e na Europa, o Nissan Leaf, oferece 270 km com bateria de 40 kWh e um preço de 34.000€, apesar do eléctrico japonês ter óbvias vantagens no que respeita à dimensão do habitáculo e da bagageira.
Mas para circular, sobretudo em cidade, um citadino como o Mii Electric tem muitas vantagens, sobretudo quando levamos o tamanho e preço em linha de conta. A app da Seat facilita a utilização, assegurando o controlo remoto da climatização, a gestão da carga, o estado do veículo e até ajuda a encontrá-lo.
O primeiro Seat exclusivamente a bateria está disponível com dois níveis de equipamento, o Mii Electric e o Mii Electric Plus, com este a parecer-nos mais interessante, pois oferece mais equipamento por uma pequena diferença no preço. O citadino pode ainda estar dotado com o sistema de reconhecimento de sinais de trânsito e de manutenção na faixa de rodagem com correcção de volante.
Carro pequeno e barato melhor do que os grandes?
O Mii Electric não pretende ser um Lamborghini e muito menos um Bentley, só para mencionar dois outros fabricantes que, tal como a Seat, também integram o Grupo Volkswagen. Mas a realidade é que nem todos podem adquirir veículos como estes e alguns nem quereriam, caso pudessem. Como veículo acessível que é, o pequeno eléctrico tem as limitações que reconhecemos a todos os modelos alimentados por bateria, mas soma igualmente as vantagens. A começar pelos custos por quilómetro extremamente baixos, com a Seat a apontar para 2,8€ por cada 100 km, partindo como base do preço médio do kWh da União Europeia. Isto equivale a um veículo a gasolina com um consumo de somente 1,8 litros/100 km, o que é algo impossível de conseguir.
E como os fabricantes precisam de comercializar motores eléctricos, para fazer baixar a média de emissões de CO2, que em 2020 terá de estar abaixo dos 95 g/km, a marca espanhola avança com propostas muito competitivas para realizar um leasing deste citadino a bateria. Por uma mensalidade de apenas 145€ em Espanha e de 149€ na Alemanha (em Portugal não deverá ser muito diferente, uma vez que o banco continuará a ser o do Grupo Volkswagen), é possível contratar ao ano um Mii Electric. Um contrato ideal para quem quer ver até que ponto um eléctrico é o tipo de veículo que lhe interessa.
O novo Seat Mii Electric, fabricado na República Checa, chega aos primeiros 13 países europeus em Fevereiro, para arrancar no mercado português no final do primeiro semestre.