“Eu vou ter o meu próprio estilo. Vou ser eu própria, portanto, provavelmente diferente. Não queiram fazer comparações, interpretações, segundas interpretações”, pediu Christine Lagarde, a nova presidente do BCE na conferência de imprensa após a primeira reunião do Conselho do BCE liderada pela francesa. Depois de ler um comunicado introdutório que poderia ter sido por Mario Draghi (embora lido com um sotaque ligeiramente diferente do do italiano), Christine Lagarde pediu alguns minutos aos jornalistas, antes das suas perguntas, para pedir que não façam comparações com o seu predecessor.

Nesse momento de apresentação, Christine Lagarde comentou que “cada presidente tem o seu estilo”. “Eu sei que vocês querem comparar e classificar. Mas eu vou ter o meu próprio estilo. Vou ser eu própria, portanto, provavelmente diferente”. Antecipando-se, também, às perguntas dos jornalistas, Christine Lagarde confirmou, pela primeira vez em público, que o Banco Central Europeu (BCE) vai fazer ao longo de 2020 uma análise aprofundada da sua política e dos seus efeitos, de natureza transversal.

“Não há nada de extraordinário haver uma revisão estratégica”, advogou Christine Lagarde, defendendo que um exercício destes até podia ter sido feita mais cedo (a última foi em 2013). Mas havia outras prioridades, o que é compreensível. Nesta fase, porém, tendo em conta as medidas não-convencionais que estão a ser aplicadas, e até pela mudança de liderança, faz sentido fazer esta avaliação estratégica agora.

A francesa garantiu que este trabalho não vai apenas contar com contribuições dos “suspeitos do costume” mas, também, de deputados de governos europeus, académicos e representantes da sociedade civil. E garantiu, também, que esse é um trabalho que não tem qualquer “ponto de chegada pré-determinado” — mas indicou que o BCE vai levar em consideração as mudanças que houve na economia e na sociedade nos últimos anos, desde logo o impacto da tecnologia, das alterações climáticas e do aumento da desigualdade.

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“Eu não sou um falcão nem uma pomba. Sou uma coruja”

Questionada sobre a sua inclinação para mais ou menos estímulos monetários, Lagarde fez uma afirmação que arrisca ficar para a história do BCE: “eu não sou um falcão nem uma pomba”, atirou Lagarde, recusando ser rotulada com as habituais designações para quem defende política monetária mais cautelosa ou medidas mais expansionistas. “Gosto mais de pensar que sou uma coruja, um animal que é associado frequentemente com sabedoria”, diz Lagarde, recusando dizê-lo com “vaidade” mas simplesmente porque a sua missão é “tirar o melhor de cada membro do Conselho do BCE” e tomar as decisões que servem os cidadãos europeus.

Mesmo estando convencida de que há sinais de alguma estabilização da desaceleração económica, Lagarde indicou que o BCE reviu ligeiramente em baixa as projeções de crescimento para os próximos anos. Porém, comentou que as novas previsões do BCE apontam para uma taxa de inflação ligeiramente superior do que o anteriormente previsto. As novas previsões são de um crescimento de 1,2% em 2019, 1,1% em 2020, 1,4% em 2021 e 1,4% em 2022. Quanto à inflação, ela será de 1,2% em 2019, 1,1% em 2020, 1,4% em 2021 e 1,6% em 2022. A meta do BCE é uma inflação “perto mas abaixo de 2% no médio prazo”.

Lagarde garantiu, também que o risco de “japonificação” na economia da zona não está, de todo, no horizonte.

“Japonificação”. Zona euro arrisca nova década perdida, receiam analistas