O rio Douro acordou castanho e não demorou até ser fotografado e metido a navegar nas redes sociais. Mais do que num rio, a onda mediática que lá se gera criou a questão: de onde virá a cor a terra?
https://www.instagram.com/p/B6t3G7MgeAI/
A manifestação é normal mas a causa não é natural. Tem um nome: descargas de barragens. Mário Luís Marques, meteorologista e climatologista, explica que, depois de alguns dias de grande produção energética nas barragens e, portanto, de acumulação de água, está a haver descargas sucessivas de água para o rio Douro.
https://www.instagram.com/p/B60m1ycHKV9/
https://www.instagram.com/p/B60HlAbJGOd/
Quando mais cheia está uma barragem, mais energia produz e “esteve-se a conter a água nestes dias para produzir energia”. Depois do pico de produção e de consumo elétrico — “por norma, a semana do ano que consome mais energia” — as barragens começaram a libertar a água de forma controlada. Mário Luís Marques acredita que foi libertada água de pelo menos cinco barragens desde a Régua.
https://www.instagram.com/p/B6ys3HHJwDO/
Isto já aconteceu em anos anteriores em que choveu muito. As barragens acumulam água, há uma capacidade de encaixe, produção elétrica e depois há necessidade de fazer um vazamento. É uma situação normal dada a acumulação de sedimentos nas albufeiras e nas barragens, com detritos mais argilosos”, confere o especialista em gestão de riscos naturais e em ordenamento do território.
A cor castanha dá-se pelo afloramento fluvial mas também pelos sedimentos, alguns argilosos, que se concentram nas barragens durante meses, em períodos em que não há descargas consecutivas, e que foram movimentados. “Ainda para mais houve toda aquela terra arrastada, de erosão, destes quase 50 dias de chuva desde outubro”, lembra Mário Luís Marques.
O metereologista do Porto, fundador da empresa iClimateAdvisor, lembra que esta “é uma manifestação normal mas não acontecia com esta intensidade desde 2006”. Só “em 2016 houve um bocadinho”, altura em que também choveu muito.