Não é surpresa — nem sequer a estreia — ver Pedro Sánchez a falhar investiduras na primeira votação, que com esta já conta três (a primeira em 2016, que levou a novas eleições, e a segunda em julho do ano passado). A boa notícia é que a exigência da segunda votação é outra e deixa de ser necessária uma maioria absoluta para a investidura — passa a bastar uma maioria simples, onde o total de ‘sim’ seja superior ao de ‘não’, nem que seja por apenas um, como aconteceu na votação deste domingo.

As contas iniciais apontavam para um resultado de 167 sim, 165 não e 18 abstenções e apenas falharam os 167 sins porque uma deputada do Unidas Podemos faltou à votação no Congresso. Houve um deputado a votar sim por correspondência e o acordo conseguido com os independentistas catalães da ERC para que os deputados se abstivessem foi mantido contando-se os votos dos deputados da ERC entre as 18 abstenções.

A sessão veio na sequência de uma jornada exigente no sábado, num debate de mais de 12 horas. A surpresa no sábado foi Ana Oramas, que anunciou a intenção de votar contra a investidura de Sánchez, ao contrário da indicação do seu partido, a Coalicion Canaria. Já a ERC desfez as dúvidas: ia abster-se na votação. Apesar das contas “à justa”, Sánchez continuava a poder contar com a investidura à segunda votação, na terça-feira.

Do EH Bildu Pedro Sánchez ouviu que “não pode governar sem as esquerdas independentistas”, provando uma vez mais que a Catalunha, ou, melhor dizendo, a falta de unidade territorial espanhola, é um assunto incontornável para o próximo governo espanhol, sublinhado pelos acordos conseguidos por Sánchez para que os partidos independentistas se abstivessem, permitindo assim a investidura do seu governo de coligação.

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Os momentos mais quentes do debate

O debate deste domingo acabou por se tornar bem mais aguerrido do que a sessão de sábado, com a polémica deputada do EH Bildu Mertxe Aizpurua a ser alvo de apupos constantes das bancadas da direita, sendo seguida pela porta-voz do CUP, Mireia Vehí, que falou de “uma monarquia corrupta” num registo incómodo para os deputados no Congresso.

O porta-voz adjunto do Ciudadanos, Edmundo Bal, ainda invocou o artigo 72 do Regulamento do Congresso —  para que se coloque ordem no Congresso quando está em causa a falta ao decoro em relação a instituições do Estado —, justificando o pedido com a afirmação de Mertxe sobre Espanha ser “um país autoritário”, houve quem invocasse também o artigo 103 para chamar à atenção da deputada do EH Bildu, mas a presidente do Congresso rejeitou os dois apelos com a “liberdade de expressão” salvaguardada a todos os deputados, independentemente da cor política que representem.

Mas, mesmo sem tempo de intervenção para a sessão deste domingo, a porta-voz do Ciudadanos, Inés Arrimadas, acabou por protagonizar um dos momentos mais polémicos do dia durante a intervenção de Adriana Lastra, do PSOE a quem coube a última intervenção da investidura. Arrimadas ergueu um “currículo” de Lastra, onde figurava apenas a indicação “PSOE”, aludindo à falta de experiência profissional de Adriana Lastra fora da política.