Já se vai tornando difícil acrescentar mais páginas à estória sobre o diferendo entre a deputada única do Livre, Joacine Katar Moreira e o Grupo de Contacto, a direção do próprio partido pelo qual foi eleita, tais não são os avanços e recuos nas decisões que vão sendo empurradas para depois.
Num momento não muito comum em Joacine, a deputada mostrou-se disponível para fazer “algumas cedências” na relação com a nova direção, para que esta mantenha a confiança política em Joacine. É objetivo de Joacine, conforme indicou, “não inviabilizar a confiança” que os eleitores depositaram no partido, mas — e tal como aconteceu no primeiro dia de congresso — esse aparente rasgo de luz foi rapidamente tapado pelas declarações do Grupo de Contacto nos minutos seguintes.
Pedro Mendonça, membro da nova direção (e que transita da anterior) mostrou-se surpreendido com as afirmações de Joacine já que, diz, “nos dois dias de Congresso” não lhe foi transmitida qualquer intenção de a deputada retomar o contacto com a direção. Recorde-se que a deputada única do Livre cortou relações pessoais com os membros da direção (da qual ainda fazia parte também) no final de novembro, antes do polémico voto sobre a Palestina.
E se Joacine mudar a postura, a confiança mantém-se e poderá a deputada continuar a representar o partido no Parlamento? Talvez, já que a nova direção garante que cumprirá aquilo que a também nova assembleia do partido determinar. Mas, para isso, é preciso que um rol de pressupostos seja garantido.
O novo Grupo de Contacto fez questão de clarificar todos os requisitos para que isto aconteça: será necessário que Joacine “assuma que o Livre tem um programa eleitoral, uma carta de princípios, um modo de estar na política”; que não recuse “reuniões com outros partidos de esquerda e progressistas”; caso coloque “ na agenda temas que os camaradas do partido” decidam; se “mantiver o grau de lisura com outros camaradas” e ainda “se mantiver um nível de conduta educacional”. Além de explicar o que é necessário daqui em diante, fica claro o que tem faltado até este ponto.
Joacine Katar Moreira esteve presente no decorrer de todo o Congresso, com uma intervenção bastante exaltada no primeiro dia, mas a participar tranquilamente nas votações das moções específicas propostas pelos membros do partido no segundo dia. Tendo sido contadas duas aprovações por unanimidade para a qual a deputada também contribuiu e aplaudindo a composição dos novos órgãos eleitos no momento do anúncio. Levando a crer que está empenhada em fazer algumas mudanças.
Por saber ficou o conteúdo da breve conversa que travou com Rui Tavares na fila da frente do Congresso. Com a expressão de Rui Tavares a ficar visivelmente alterada por breves momentos, adivinha-se que não tenha sido a conversa mais tranquila que a sala escutou por estes dias, mas o conteúdo não foi revelado.
Caberá agora à nova Assembleia estabelecer o “calendário” para terminar este processo. Reunirá para agendar as reuniões necessárias, convocará quem entender para ser ouvido e comunicará o resultado dessa decisão. Tendo em consideração as críticas apontadas por Sá Fernandes à anterior Assembleia sobre a forma como decorreu o anterior processo é expectável que o Conselho de Jurisdição (cuja lista vitoriosa era encabeçada por Sá Fernandes) seja também ouvido para ajudar a definir os procedimentos a seguir, mas considerando aquilo que tem sido dito nestes dois dias de Congresso será um processo sem grandes arrastamentos no tempo.
A Assembleia é nova, mas a maioria dos membros transita da anterior ou sai, por exemplo, do Grupo de Contacto, sendo de prever que, caso não haja efetivamente uma alteração na postura da deputada única, a próxima resolução sobre o assunto se aproxime da anterior.
Ainda há tempo para que se dê “um milagre” e o Livre continue com uma deputada a representar o partido, isto para quem não acredita em impossíveis.