O Observador entrevistou os principais candidatos à liderança do CDS numa ‘mini’-entrevista — é um formato em vídeo em que a entrevista tem o tempo que demora a beber uma ‘mini’.

Filipe Lobo d’Ávila tirou os últimos dois anos para se dedicar à advocacia, a sua profissão. Agora regressou à política ativa, mas sempre com um pé na atividade profissional. O local escolhido para a ‘mini’-entrevista com o Observador é um café que costuma frequentar, no Alto dos Moinhos, bem perto do escritório de advogados a que pertence: a sociedade alemã Rödl & Partner. Explica que quer tirar o “PP” do “CDS” por uma “questão de marca” e “simbólica”, de regresso a um CDS de implantação nacional que consiga ver o país longe do Largo do Caldas.

É também o candidato que sempre defendeu que Nuno Melo seria melhor líder do que Assunção Cristas no pós-Portas: “Apoiaria o Nuno Melo se ele tivesse sido candidato há quatro anos”. Mas esse tempo já passou e lembra que o eurodeputado escolheu o caminho de ser vice-presidente de Cristas e não discordou da liderança: “Eu fiz um caminho de divergência, procurei dizer nos locais próprios qual o caminho alternativo. A minha candidatura não está dependente de qualquer outra”.

Lobo d’Ávila espera também que a qualquer momento Nuno Melo declare o apoio a João Almeida, pois o eurodeputado e “todo o grupo” que com ele fez a moção “estará na linha da continuidade”. O antigo deputado destaca ainda que este “momento é delicado para o CDS estar à espera do D.Sebastião ou de um homem providencial”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rejeitando o rótulo de “anti-Cristas”, Lobo d’Ávila diz ter “respeito e admiração intelectual pela Assunção”, mas não quis seguir o mesmo caminho, daí ter abandonado o Parlamento no último congresso. Confessa que até poderia ter beneficiado de “arranjinhos”: “Podia ter querido negociar permanências no Parlamento em troca do meu silêncio.” Sobre o porquê de não ter avançado há dois anos, Lobo d’Ávila lembra que “80% do partido sufragava e aclamava a presidente que tinha” e que os “jornalistas” lá fora “reconheciam o efeito novidade e popularidade que Assunção tinha”, logo, “não fazia sentido” apresentar uma candidatura alternativa.

Lobo d’Ávila defende ainda a “reversão gradual” da lei da despenalização do aborto e defende que o CDS “não deve ter problema em assumir qual é a sua posição sobre assuntos relacionados com matérias de direito à vida”.  Assume ainda que este é “um nicho importante para o partido”. E acrescenta: “O CDS não mudou, continuamos contra o aborto, contra o casamento [entre pessoas do mesmo sexo] e seremos contra a eutanásia“.

A prioridade, no entanto, não é mexer na lei, mas sim criar “mecanismos de apoio” que diminuam o recurso ao aborto. E não é prioritário porque, segundo o antigo deputado, “não há um problema tão sério das mulheres a recorrer ao aborto, o que significa que a lei teve um impacto muito reduzido”. Já no que diz respeito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, defende: “Obviamente hoje não faz sentido reverter a lei para uma situação que já produziu inclusivamente efeitos jurídicos e eu como advogado jurista, provavelmente até tenho uma perspetiva um bocadinho mais forte relativamente aos efeitos jurídicos que se produzem”.

Desta vez, Filipe Lobo d’Ávila poderá não ficar de fora dos órgãos do partido. Questionado sobre se aceitará integrar a direção de Francisco Rodrigues dos Santos ou de João Almeida, o candidato responde que “neste momento tem de haver um sentido de unidade, de maturidade e de procurar pacificar o partido“. Por isso, se não ganhar — algo que acredita que tem “condições para fazer” — promete não fazer “oposição interna”. “Se participo mais ativamente ou não, dependerá de circunstâncias e dinâmica do congresso”, acrescenta.

Sobre as presidenciais, Filipe Lobo d’Ávila defende que, como não se sabe quem serão os candidatos, o CDS “deve ser prudente e manter todos os cenários em aberto”. E concretiza: “Isso significa poder manter uma candidatura, não apoiar nenhuma candidatura, ou apoiar uma candidatura que possa surgir no seu espaço político”. E quem? “No espaço político do CDS há vários, nos ex-líderes”. Paulo Portas? “Não sei se a sua vontade pessoal passa por aí, mas Paulo Portas seria um excelente candidato presidencial“.