O Papa Francisco terá “todo o prazer” em receber Luiz Inácio Lula da Silva no Vaticano, disse o presidente argentino, Alberto Fernández, após uma reunião com Francisco, na qual transmitiu o desejo do ex-presidente brasileiro. “O Lula pediu-me para ver o Papa. E eu pedi (ao Papa) se ele podia receber o Lula. E ele me disse que ‘claro’ e que (o Lula) lhe escrevesse porque ele, com todo prazer, o receberá”, disse Fernández depois de se ter reunido na sexta-feira com Francisco no Vaticano.

Fernández também indicou aos jornalistas que o assunto sobre uma visita de Lula da Silva ao Vaticano surgiu quando os dois abordaram o “Lawfare”, termo usado para definir uma guerra judiciária para intervir na política e para destruir adversários. Segundo o presidente argentino, em agosto de 2018, quando Lula da Silva completava quatro meses de prisão, o Papa Francisco escreveu-lhe uma mensagem na qual o abençoava.

A Luiz Inácio Lula da Silva com a minha bênção, pedindo-lhe para rezar por mim, Francisco”, dizia a mensagem escrita na folha de rosto de um livro. O Papa recebera um exemplar em italiano do livro “A verdade vencerá”, do ex-presidente brasileiro.

Naquela ocasião, Alberto Fernández estava longe de qualquer cargo político, mas conhecia o Papa da época em que tinha sido chefe do gabinete de ministros do Governo Kirchner. Em maio do ano passado, o Papa Francisco enviou uma carta a Lula da Silva na prisão na qual pedia ao antigo presidente que não desanimasse nem deixasse de confiar em Deus. “O bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”, afirmava o Papa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A carta do Papa era uma resposta a outra de Lula da Silva na qual ele agradecia o apoio “ao povo brasileiro pela justiça e pelos direitos dos mais pobres” e pedia o apoio e a amizade de Francisco.

Papa Francisco escreve carta a Lula e pede-lhe para não desanimar

Esta semana, numa entrevista com o jornal argentino Página 12, Lula da Silva, libertado em novembro após 19 meses na prisão após ter sido condenado por corrupção, fez vários elogios ao Papa. “É um Papa comprometido com o povo pobre, com o combate à fome, ao desemprego à violência, aos crimes contra as mulheres e contra os negros. Ou seja: ele é tudo o que nós queremos de um Papa. É um Papa que pensa como nós”, enfatizou Lula.

O gesto pessoal de Fernández para um encontro entre o Papa e Lula da Silva acontece num momento em que a diplomacia argentina tenta organizar uma reunião entre Fernández e o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, depois de trocas de acusações políticas entre os dois chefes de Estado, que colocaram em causa as relações bilaterais.

No último dia 16, Bolsonaro disse que a decisão dos Estados Unidos de priorizarem o Brasil – e não a Argentina – para entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tinha relação com a decisão dos argentinos de “elegerem quem os colocou na situação de desgraça na qual se encontravam”, em alusão ao regresso ao poder da vice-presidente, Cristina Kirchner, que governara o país entre 2007 e 2015.

O clima entre os dois governantes ficou ensombrado depois de Alberto Fernández, durante a campanha eleitoral, ter visitado Lula da Silva na prisão e, durante o discurso de vitória, ter pedido a sua libertação. Este discurso levou Bolsonaro a não felicitar Fernández pela vitória e a não ir à tomada de posse. Na ocasião, Bolsonaro disse que os argentinos “escolheram mal”.