Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, defendeu a aposta de uma estratégia ibérica coordenada entre Portugal e Espanha, num modelo semelhante ao que existe entre a Bélgica, os Países Baixos e o Luxemburgo. E aliás, até se inspirou no seu nome: em vez de Benelux, propõe que esta aliança entre portugueses e espanhóis se chame Iberolux.
A ideia do presidente da câmara portuense, que lidera a autarquia (como independente) desde 2013, foi defendida no fim de semana passado no Cities Forum 2020 que decorreu precisamente no Porto. “Sempre acreditei que, desde que Portugal e Espanha têm democracias, deveríamos ter um Iberolux, como um Benelux”, afirmou Rui Moreira numa entrevista à agência de notícias espanhola Efe.
Durante centenas de anos vivemos de costas voltadas, com enormes desconfianças. Felizmente, essa realidade hoje já não existe. A ligação entre as nossas cidades transfronteiriças é óbvia. Falamos um idioma que não é o mesmo, mas entendemo-nos. Temos um espaço ibero-americano que é essencial para ambos os países. Falta agora fazer o trabalho de construir o Iberolux”, disse Rui Moreira.
Para o autarca está na altura de Portugal e Espanha terem uma cooperação ainda mais estreita dentro do quadro da União Europeia. Rui Moreira quer que essa estratégia se estende até à América latina, e considera-a “essencial” para Portugal e Espanha na criação de uma “identidade ibérica”. Segundo Moreira, as ligações entre Portugal e a Galiza já mostram uma relação muito próxima entre o Norte de Portugal e a Região Norte de Espanha, que já praticamente dá como certa a ausência de fronteiras.
“O projeto europeu está vivo e de boa saúde e tem agora novas apostas”, disse também Rui Moreira, como refere o site oficial da Câmara Municipal do Porto. O presidente da Câmara recebeu recentemente o Master de Oro do Real Forum de Alta Dirección de Espanha. “O maior número de visitantes que temos são espanhóis. E são bons turistas: gostam de fazer compras, comer e beber”, disse ainda.
Nome de Iberolux já tinha sido proposto por Paulo Rangel
A proposta de um “Iberolux” já tinha sido defendida em 2004 pelo agora social-democrata Paulo Rangel, num artigo no jornal Independente que foi posteriormente publicado no livro “Uma Democracia Sustentável”, em 2010, assinado pelo próprio.
No texto, Paulo Rangel escrevia: “(…) num quadro europeu alargado, não me faz espécie que os dois vizinhos se inspirem num experiência de integração preferencial, criteriosa e respeitadora das identidades: o Benelux. O Mibel [Mercado Ibérico de Eletricidade] pode ser um primeiro passo para esse Iberolux (sem Luxemburgo, claro está)”.
Questionado pelo Observador sobre a expressão utilizada por Paulo Rangel, Rui Moreira afirma que se lembra de o atual eurodeputado a ter utilizado “há mais de 10 anos anos” numa altura em que trabalharam juntos. Contudo, diz que quando referiu o termo não se lembrou do texto de Paulo Rangel. O líder da câmara do Porto mencionou também que não sabe se foi Paulo Rangel o primeiro a utilizar a expressão.
Ao responder a esta questão, o autarca referiu que o tema de uma relação mais estreita entre os dois países “é um tema recorrente” e que foi por isso que falou na questão, dizendo que o facto de a Galiza ter uma administração autónoma e Portugal não ter traz dificuldades na comunicação. “Quando há cimeiras ibéricas, o primeiro-ministro de Espanha traz as lideranças das regiões. No caso do governo português, não acontece [por não haver regiões]”, disse ainda Rui Moreira.
*Artigo atualizado às 19h38 com declarações de Rui Moreira no site da Câmara do Porto e com informação sobre o texto de 2004 de Paulo Rangel, e às 20h16 com declarações de Rui Moreira ao Observador.