O surto de coronavírus que teve início em Wuhan, na província de Hubei, tem deixado o mundo em alerta, tendo já provocado mais de mil mortos e infetado mais de 40 mil pessoas desde dezembro. À primeira suspeita, os doentes são colocados de quarentena, tanto em hospitais como em casa. Mas a medida contra a dispersão de surtos como este não é de agora. A quarentena é usada pelo menos desde 1468.

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Em meados do século XIV, a peste negra começou a afetar grande parte da Ásia, da Europa e algumas partes de África, escreve a BBC. Durante este tempo, terá morrido um terço da população europeia, o que obrigou à adoção de medidas extremas. Em alguns locais, foi decidido que os infetados seriam levados das cidades para os campos, onde poderiam recuperar… ou morrer. Em 1377, por exemplo, a Croácia decretou um período de isolamento obrigatório de 30 dias antes de qualquer pessoa poder ser admitida na cidade.

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O termo, no entanto, só começaria a ser utilizado em 1468, quando Veneza, epicentro comercial europeu de então, implementou uma regra que obrigava que todos os barcos permanecessem ancorados no porto durante 40 dias antes de deixar os tripulantes desembarcarem. A expressão italiana era essa mesma, quaranta giorni (que significa 40 dias), e a partir de então passou à história como quarentena, escreve o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC).

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Segundo Mark Harrison, um professor de História da Medicina de Oxford, em declarações à BBC, apesar de não se saber precisamente de onde vem o conceito do porquê dos 40 dias de quarentena, existem várias teorias. Uma delas tem a ver com a Bíblia — Jesus terá jejuado 40 dias e 40 noites no deserto. Outra justificação, mais simples e menos eligiosa, é a de que o período de 30 dias (trentino) era insuficiente.

Segundo um artigo da Universidade de Harvard, o termo continuou a ser utilizado ao longo dos anos para designar o período de isolamento de pessoas infetadas com alguma doença. Já os EUA, foram implementando diversas leis que visavam dar poderes às autoridades de cada Estado para lidarem com os surtos e que variavam os dias de isolamento. As alterações culminaram na “lei para impedir a introdução de doenças contagiosas ou infecciosas nos Estados Unidos”, aprovada em 1878, segundo o mesmo artigo. Desta forma, a monitorização dos barcos que transportavam infetados era feita no mesmo local e de forma mais eficiente, no Marine Hospital Service.

Este seria o início do termo como é conhecido nos dias de hoje, uma vez que a nova lei abriu portas à aplicação de várias medidas e divisões de quarentena pelo governo, que ainda hoje são impostas.

Atualmente, o período de quarentena é estipulado pelo governo ou pelas instituições de saúde.

Quando as medidas de quarentena são introduzidas, não se baseiam apenas em cálculos médicos sobre se serão eficazes ou não para interromper ou retardar o avanço da doença infecciosa”, explicou o professor de Oxford, acrescentando: “Medidas como a quarentena são tomadas para responder às expectativas de outros governos, mas também para tranquilizar a própria população”.

Segundo Harrison, o surto de SARS, em 2003, deu início a uma nova era de controlo infeccioso, reforçando as lições acerca da importância de trabalhar com outros países durante uma crise de saúde pública.

Neste momento estão a ser impostos 14 dias de quarentena aos doentes com suspeitas de estarem infetados com coronavírus. Mas notícias desta terça-feira, 11, indicam que o vírus pode incubar mais tempo, durante 24 dias.

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