O diretor clínico do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, afirmou esta quarta-feira que a falta de médicos nas urgências da unidade é um problema antigo que se deve à falta de formação de especialistas há 10 anos.
O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Joaquim Ferro, e o diretor clínico do Hospital de Santa Maria, Luís Pinheiro, foram hoje ouvidos na Comissão de Saúde, no parlamento, a pedido do PSD, “a propósito da degradação das condições de funcionamento dos hospitais do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.
O pedido de audição surgiu na sequência de, em novembro passado, 21 chefes de equipa do serviço de urgência do Centro Hospitalar Lisboa Norte terem pedido escusa de responsabilidade devido à falta de médicos, por considerarem não estarem reunidas as condições para cuidados de saúde com qualidade e segurança, numa ação denunciada pelo Sindicado dos Médicos da Zona Sul. “Um problema que parece ser novo, mas que é antigo”, disse Luís Pinheiro, sublinhando que “nada se passou” em novembro de 2019, do ponto de vista do serviço, que não se tenha passado em anos anteriores.
“Terá acontecido algo diferente do ponto de vista do enquadramento, eventualmente, por uma questão de oportunidade ou de algum cansaço por parte das equipas. Não é um problema por falta de vontade de contratar especialistas para trabalhar nas urgências, mas porque não [os] há”, afirmou.
Luís Pinheiro salientou que existe uma “lacuna geracional” devido à falta de formação de especialistas há dez anos, pelo que agora estão em falta.
Mais de 50% dos médicos tem mais de 50 anos e alguns fazem urgências noturnas, sublinhou.
Por seu turno, Joaquim Ferro referiu que nos últimos anos houve uma alteração das equipas no serviço de urgência e que hoje há menos especialistas, o que obrigou a um esforço redobrado por parte dos especialistas de medicina interna.
Segundo o presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, constituído pelos Hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, para minimizar este problema está a ser reforçada a formação na área da medicina interna.
O responsável exemplificou que há cerca de cinco anos apenas se formavam, naquele hospital, sete ou oito médicos, e em 2019 conseguiram formar-se 14, perspetivando-se que em 2020 se possam formar 17.
Outra das medidas apontadas por Joaquim Ferro foi a de reforçar a contratação de médicos desta especialidade, que “se tornou quase o tronco das equipas de urgência”, referindo ainda que durante três anos vai ser necessário “reforçar pelo menos em seis especialistas a medicina interna”.
“Temos a curto prazo três especialistas a mais já recrutados – e já no hospital – e no próximo concurso serão recrutados mais três”, salientou, acrescentando que também se reforçou as equipas “com pessoas mais capacitadas” e internos com mais experiência.
Relativamente a contratações de profissionais de saúde, Joaquim Ferro indicou ainda que foi possível contratar cerca de 200 pessoas em 2019 e estão previstas mais aquisições nos próximos anos, afirmando que o hospital ficará “confortável com essas contratações” em todas as áreas.
O responsável considerou como “insuficiente” o investimento nos últimos anos e acrescentou que o objetivo é “tentar que, nos próximos três anos, a instituição consiga duplicar a capacidade de investimento”, o que significa “passar de um esforço de investimento de quatro milhões de euros por ano” para “cerca de nove a 10 milhões de euros por ano nos próximos três anos”, visto que há muitos equipamentos que precisam de ser substituídos.
Defendeu ainda a necessidade de melhoria de infraestruturas, exemplificando que existe um plano para recuperar nove enfermarias que ainda são “da altura da fundação do hospital”, com “pisos de madeira” e “com uma casa de banho por enfermaria”.