Mais do que as frases que se seguiram, o que chocou Inglaterra foi a imagem. Esta semana, enquanto antevisão do encontro entre Manchester City e Real Madrid para a Liga dos Campeões, o jornal espanhol AS fez capa com uma entrevista a Raheem Sterling, o avançado inglês dos citizens. Nessa mesma capa, Sterling aparecia com a camisola do City sobre o ombro direito e a do Real Madrid no ombro esquerdo — quase como se se tratasse de uma imagem de presente e futuro. As frases que apareciam de seguida, e que eram um claro piscar de olho ao Real Madrid, fizeram soar os alarmes em Manchester.

“Estou no Manchester City e estou muito feliz, mas também digo que o Real Madrid é um clube fantástico. Quando vês a camisola branca já sabes exatamente o que representa o clube, é enorme. Agora, tenho de dizer que tenho um grande contrato com o City [até 2023] e vou respeitá-lo. Mas o Real Madrid é um clube fantástico”, disse o internacional inglês ao AS. Menos de uma semana depois de o Manchester City ficar a saber que corre o sério risco de ficar arredado das competições europeias nos próximos dois anos, correndo assim também o sério risco de perder jogadores, Sterling abria a porta a uma saída para o Real Madrid. Mas Guardiola garantiu que não era assim que via as coisas e invocou a liberdade de expressão.

“Os jogadores são livres para dizerem o que querem. Nós não estamos aqui para lhes dizer o que têm de dizer. É normal que, concedendo uma entrevista a um jornal de Madrid, fale do Real Madrid”, atirou o treinador espanhol, que voltou a abordar a possibilidade de deixar o Manchester City na sequência do castigo que afasta o clube das competições europeias. Depois de garantir que vai ficar até o quererem, que ia com o City “até à terceira liga”, Guardiola recordou agora que o mais importante será sempre a própria felicidade.

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“Eu não sei [como será o futuro]. Eu quero ficar mais um ano e depois disso logo se vê. Também irá depender dos resultados. Quando disse, há um mês, que no futuro iríamos ficar juntos por mais cinco épocas, é uma ideia que mantenho, caso o clube pretenda estender o atual contrato que tem comigo e com o meu grupo de trabalho. Estou à procura da minha felicidade. É a única coisa que procuro”, atirou o técnico, na antevisão da visita ao Leicester. Uma visita que se poderia revelar importante nas contas do pódio da Premier League: em cenário de vitória, a equipa de Ricardo Pereira ficaria a apenas um ponto do City e do segundo lugar.

Ricardo Pereira e Bernardo Silva foram ambos titulares

Com o homem da semana, Sterling, ainda lesionado, Guardiola entrava em campo com Bernardo Silva, Agüero e Mahrez na frente de ataque e Rodri, ladeado por De Bruyne e Gündoğan, no setor intermédio. Do outro lado, Ricardo Pereira era titular no corredor direito do Leicester. No final de uma primeira parte sem golos, subsistia a ideia de que ambas as equipas estavam mais preocupadas em não permitir espaço ao adversário do que propriamente em causar perigo. Tanto o City como o Leicester estavam bem organizados e coerentes na contenção, a reduzir a esfera de influência de jogadores como Bernardo e Mahrez ou Vardy e James Maddison, mas raramente investiam em movimentos de rotura ou profundidade. Tielemans falhou na cara de Ederson, Gündoğan não foi eficaz e o lance mais perigoso do primeiro tempo terminou em golo, com Agüero a acertar na baliza de Schmeichel depois de um bom contra-ataque conduzido por Bernardo e De Bruyne (45+1′), mas acabou anulado por fora de jogo do argentino na altura do último passe.

Na segunda parte, o Manchester City precisou de dez minutos para entrar com perigo no último terço adversário, com Schmeichel a fazer mais uma grande defesa depois de um remate de De Bruyne (54′). O guarda-redes dinamarquês do Leicester tornou-se ainda mais decisivo por volta da hora de jogo, quando o VAR assinalou uma grande penalidade a favor do City por mão na bola de Praet: na conversão, Agüero bateu para o meio da baliza mas Schmeichel evitou o golo com a perna (60′), defendendo um penálti na Premier League pela quarta vez, mais uma do que o pai Peter. Logo de seguida, num novo confronto entre os dois jogadores, o guarda-redes voltou a evitar o golo do argentino com uma defesa com o pé (63′).

Guardiola tirou o perdulário Agüero para lançar Gabriel Jesus e o Manchester City continuou por cima do jogo, ainda que o Leicester criasse perigo a espaços em lances de transição rápida e de solicitação da profundidade de Vardy. A equipa de Guardiola chegou a uma justificada vantagem, face ao rácio de oportunidades de golo e à superioridade tangível, quando faltavam apenas dez minutos para o apito final: Mahrez conduziu pela faixa central em velocidade e abriu em Gabriel Jesus na direita, que à saída de Schmeichel rematou para inaugurar o marcador (80′). Com apenas uma oportunidade, o avançado brasileiro fez o que Agüero não conseguiu fazer em várias e com um penálti, naquela que foi claramente uma tarde de escassa inspiração do argentino.

No final do jogo, Kasper Schmeichel foi sem dúvidas o melhor elemento em campo mas perdeu o estatuto de homem do encontro para Gabriel Jesus, o único a obrigá-lo a ir buscar uma bola ao fundo das redes. O Manchester City venceu pela segunda jornada consecutiva na Premier League, depois da derrota com o Tottenham, e abriu uma vantagem de sete pontos para o terceiro lugar e para o Leicester — que, nesta altura, tem já o Chelsea a seis pontos.