Todos os dias, nas ruas de Los Angeles, vagueia uma carrinha azul celeste com listas brancas, vermelhas e verdes que se chama “Príncipe de Veneza”. É a única roulote da cidade americana a vender massa fresca. E o dono é, verdadeiramente, um príncipe italiano — financeiramente independente, tal como Harry anseia vir a ser — chamado Emanuele Filiberto, cuja família se exilou entre Portugal e a Suíça quando o reinado da Casa de Saboia caiu.

O dono da carrinha à direita com o dono Generoso. Créditos: Marco Piovanotto

Embora a origem da família de Emanuele Filiberto tenha quase mil anos, a história deste príncipe começa em 1946, quando um referendo derrubou oficialmente a monarquia em Itália e implementou a república. Umberto II, que se tinha tornado rei depois de Vittorio Emanuele ter abdicado do trono numa tentativa de salvar o regime, transferiu os poderes para o primeiro-ministro Alcide de Gasperi. E toda a família real exilou-se então em Cascais.

Quando o antigo rei italiano se separou da mulher, Maria José da Bélgica, esta mudou-se para a Suíça com os filhos. O único homem nascido dessa relação, Vittorio Emanuele de Saboia, casou em 1970 com uma esquiadora náutica suíça chamada Marina Ricolfi Doria, duquesa de Saboia, de quem estava noivo desde os anos 50. Foi deste casamento que nasceu Emanuele Filiberto, o dono da carrinha de comida de rua em Los Angeles.

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Não é que Emanuele Filiberto seja propriamente um príncipe perdido. Antes de 2002, quando a Constituição italiana proibia os homens da Casa de Saboia de entrarem em território italiano, Emanuele era comentador do programa desportivo “Quelli che il calcio”, em que participava por vídeochamada. Quando a lei mudou e a realeza italiano pode regressar à terra natal, Emanuele tornou-se jurado em programas de talento, participava em anúncios de marcas italianas e entrou em reality shows.

A vida de celebridade televisiva corria bem a Emanuele Filiberto — até ganhou uma das edições italianas de “Dançar com as Estrelas” — e foi graças a ela que chegou a Hollywood. Mas tudo mudou em 2016 quando, enquanto passeava pela baixa de Los Angeles, sentiu uma grande vontade de comer massa fresca. “Vi carrinhas de hambúrgueres, de tacos e até de sushi. O mais próximo que havia era macarrão com queijo. E não se pode pedir a um italiano que coma macarrão com queijo”, explicou ele ao Atlas Obscura.

A carrinha em Los Angeles. Créditos: Prince of Venice.

Foi por isso que, seis meses depois, abriu o “Príncipe de Veneza” — uma roulote equipada com as máquinas que o ajudam a fazer massa fresca como se estivesse na cozinha de um restaurante. Generoso, o dono, faz conchiglie, penne, maccheroni, bucatini e creste di gallo. Emanuele Filiberto trata das contas. E o negócio tem corrido tão bem que o príncipe italiano se dedica totalmente ao “Príncipe de Veneza” e já não faz aparições televisivas.

Questionado sobre se é reconhecido na rua, Emanuele Filiberto diz que não: “Sou muito feliz na América porque sou totalmente desconhecido. É bom para mim”. Mas a veia italiana nunca o abandonará: “Fiquei tanto tempo fora do meu país que tudo o que fiz na vida teve algo a ver com a cultura italiana. A pasta é algo que os italianos têm no ADN”.