O governo chinês aumentou o assédio sobre jornalistas estrangeiros visando moldar narrativas sobre o país, denunciou esta segunda-feira o Clube de Correspondentes Estrangeiros da China (FCCC, na sigla em inglês) no seu relatório anual.
O FCCC considerou que o inquérito a 114 correspondentes, oriundos de 25 países e regiões, revelou os “esforços sistemáticos” do Estado chinês para “abafar reportagens factuais da imprensa estrangeira que não se encaixam na imagem global que o regime chinês quer cultivar”.
A pressão a que os jornalistas estrangeiros estão sujeitos na China reflete a forma como as autoridades chinesas estão a alargar o seu alcance de forma assustadora para garantir que as ‘notícias sobre a China’ obedecem apenas à sua narrativa”, apontou.
Nenhum dos jornalistas inquiridos disse que as condições melhoraram face ao ano anterior, ilustrando o aumento progressivo da dificuldade em trabalhar no país. No mês passado, as autoridades chinesas expulsaram três correspondentes do jornal norte-americano Wall Street Journal do país, “no maior grupo de jornalistas expulso em três décadas”.
Mais de 80% dos 114 membros do FCCC inquiridos revelaram terem sofrido assédio, intimidação ou violência durante o exercício da sua atividade profissional, no ano passado, sobretudo na cobertura de assuntos considerados sensíveis por Pequim. Isto inclui os protestos pró-democracia em Hong Kong, os centros de detenção para minorias étnicas de origem muçulmana no noroeste do país, ou qualquer assunto que implique o Presidente da China, Xi Jinping.
O ano passado marcou também o septuagésimo aniversário desde da fundação da República Popular da China e o trigésimo aniversário do massacre de Tiananmen, cujos detalhes Pequim tentou esconder, denunciou a FCCC.
Entre os correspondentes inquiridos, 70% indicaram que várias entrevistas foram canceladas ou que as fontes optaram por não falar devido à intervenção, direta ou implícita, das autoridades chinesas.
Funcionários chineses em órgãos de comunicação estrangeiros sentem-se também cada vez mais intimidados, além das fontes chinesas, que recusam cada vez mais conceder entrevistas por medo de represálias.
Pelo menos 25% dos entrevistados reportaram obstáculos e atrasos na renovação da credencial de jornalista e ameaças de cancelamento dos vistos de residência. Quase 70% suspeita que tem o telefone sob escuta ou que as autoridades têm acesso às mensagens trocadas
Outros 71% suspeitam que o governo lê as mensagens trocadas através do aplicativo chinês de mensagens móveis WeChat e 51% apontam o mesmo para as suas comunicações por email.
O relatório é intitulado “Control + Halt + Delete” (um trocadilho com as palavras “controlar”, “parar” e “apagar”).