Voz arrastada, a piscar muitos os olhos e ladeado pelo seu advogado, António Joaquim deu a sua primeira entrevista desde que foi absolvido — na terça-feira — do crime de homicídio de Luís Grilo, o marido da sua amante, Rosa. E falou durante quase uma hora.
Numa longa entrevista à Correio da Manhã TV, António Joaquim confessou que Rosa Grilo – entretanto condenada a 25 anos pela morte do marido – o desiludiu. E muito.”Fui traído. Ela fez-me passar 14 meses numa prisão onde nunca deveria ter estado“.
António Joaquim foi absolvido de homicídio, mas acabou condenado (apenas) a dois anos de pena suspensa por posse de arma proibida. “Foi feita justiça”, considerou o antigo funcionário judicial. Ainda assim, tem mais dúvidas sobre a sentença dada à sua amante.
“Não sei se foi feita justiça no caso da Rosa. Não sabendo o que aconteceu ao Luís Grilo, é impossível saber isso”, afirmou António Joaquim, para quem Rosa Grilo nunca mostrou um comportamento estranho. Mas Rosa é inocente? “Não sei”, repetiu várias vezes.
“Nunca achei que [Rosa] tivesse um comportamento estranho. Do que eu conheço da Rosa, nunca achei que tivesse uma atitude estranha”, disse, acrescentando que nunca lhe passou pela cabeça que a mulher de Luís Grilo “tivesse qualquer conhecimento, quanto mais qualquer tipo de envolvimento”.
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Confrontado pelas entrevistadoras com as mentiras que Rosa Grilo terá dito ao longo do processo, António afirma que apenas tem a certeza de a ter apanhado numa: “Acredito que Rosa grilo mentiu, até porque já o admitiu, quando disse que o Luís Grilo tinha ido fazer um treino de bicicleta. Disso eu tenho a certeza.”
António Joaquim explicou que ao longo da investigação questionou várias vezes Rosa Grilo sobre o assunto, e revelou que esta nunca aparentou estar a esconder algo. Desde o início do julgamento, no entanto, os dois não terão voltado a ter contacto, explicou António.
Diz que sentiu necessidade de a questionar, mas não o fez. Não o quis fazer em tribunal. “Talvez um dia venha a ter essa possibilidade e talvez possa saber o que é que se passou exatamente”, disse. E completou: “talvez um dia” a visite.
O amante de Rosa Grilo, condenada a 25 anos de prisão pela morte do marido, garante não saber nada sobre o homicídio, incluindo quando é que a arma do crime – que lhe pertencia – terá sido levada por Rosa. Sobre a arma do crime reafirmou que era sua e “estava legal”, mas também que Rosa sabia da sua existência. Sabia como usá-la e sabia onde estavam as munições apropriadas. Aliás, Rosa sabia onde estavam todas as suas armas.
E ao todo eram três: uma pistola de calibre 7.65, usada para matar Luís Grilo e que, segundo o entrevistado, foi comprada para defesa pessoal e estaria “absolutamente legal”, uma pistola FN de calibre 6.35 – que lhe tinha sido oferecida pelo pai – e um revólver, tão velho que estava “inoperacional”. “Foi-me dado pelo meu sogro. (…) Estava em tal [mau] estado que o meu filho até costumava brincar com ele”, disse.
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Mais problemática foi a explicação que António Joaquim deu sobre as mensagens trocadas com Rosa Grilo. Estas mensagens foram apagadas, o que foi apontado pela acusação como um indício de que os dois estariam concertados para cometer o crime. Ainda assim, deu uma desculpa simples.
“Sempre tive um programinha muito simples que constantemente apaga as mensagens do telemóvel para o deixar mais ‘leve'”, ou seja com menos memória ocupada.
Uma palavra ainda para a atuação da Polícia Judiciária. António Joaquim acusou a PJ de ter metido os pés pelas mãos quando o investigou. “Deu um passo maior do que a perna sem ter fundamentos reais” para a detenção, sublinhou.
Os dois arguidos foram detidos em setembro de 2018 por suspeitas de serem os autores do homicídio de Luís Grilo. O caso, no entanto, veio a público em 16 de julho, quando Rosa Grilo deu conta do desaparecimento do marido às autoridades, alegando que o triatleta tinha saído para fazer um treino de bicicleta e não tinha regressado a casa.
O corpo acabou por ser encontrado, com sinais de grande violência, já no final de agosto, em Álcorrego, a mais de 100 quilómetros da localidade onde o casal vivia (Cachoeiras, no concelho de Vila Franca de Xira).
As provas recolhidas pela PJ apontaram para que Luís Grilo tivesse sido morto a tiro no quarto do casal e transportado posteriormente para o local onde foi encontrado. O triatleta terá sido morto a 15 de julho, por motivações de natureza financeira (o triatleta tinha meio milhão de euros em seguros) e sentimental.
Rosa Grilo, no entanto, sempre negou as acusações de que era alvo, afirmando que Luís Grilo teria sido assassinado por três homens (dois angolanos e um “branco”) que lhe invadiram a casa em busca de diamantes.