O partido espanhol de extrema direita Vox reelegeu no sábado Santiago Abascal por mais quatro anos. Eleição foi feita sem primárias, votos presenciais e num congresso onde as vozes da oposição interna do partido não tiveram lugar, escreve o El País. Durante o seu discurso, o líder do terceiro maior partido aproveitou o momento para descrever os “media como meios de manipulação”. Críticos denunciaram o que parece ter sido uma “fraude” nas eleições internas e pretendem contestar a proclamação perante os tribunais.
O partido alegou ter falta de espaço no Palácio Vistalegre, onde decorreu o congresso, em Madrid, para conseguir restringir a entrada das vozes críticas – o mesmo argumento usado para fechar caminho à lista de Carmelo González, a corrente crítica designada Voxhabla e que se opunha à lista de Abascal.
A proclamação foi conhecida através de um comunicado de imprensa e, antes disso, não teria sido mencionada em qualquer momento da reunião, transmitida na internet para que os afiliados a pudessem acompanhar.
Santiago Abascal, que não interveio em qualquer momento, só veio a público no domingo. No seu discurso, atacou os media e os jornalistas, considerando-os responsáveis pelas agressões sofridas por militantes do partido. O líder foi ainda mais longe: apontou o que deveria ser ou não publicado e criticou o grupo Prisa, o El País, a rede SER e a Sexta, cujos jornalistas foram excluídos do congresso, ameaçando os acionistas dos media para alterar o tratamento da informação relacionada com o seu partido.
Teremos que pensar não apenas nos media, mas nos acionistas por trás, em muitos bancos. E teremos de os enfrentar diretamente, talvez desafiá-los publicamente”, disse Abascal, citado pelo El País, depois de enfatizar que muitos dos 3,6 milhões de pessoas que votaram no Vox são clientes dessas empresas.
O partido tem vindo a estabelecer uma organização cada vez mais piramidal e centralista – a liderança nacional passa a ter poder para instruir todos os órgãos e para os dissolver caso desobedeçam. Ainda no sábado, também em comunicado, o partido de Abascal anunciou a reformulação dos estatutos. Em falta ficou a explicação sobre esta reforma, que foi aprovada sem debate, e sobre a forma como é que o líder terá sido reeleito.
Em relação à lista de Carmelo González, segundo o mesmo jornal, o comité eleitoral rejeitou a sua admissão, alegando que esta não conseguiu obter o mínimo de assinaturas (10% dos afiliados) sem, no entanto, revelar o número de assinaturas conseguidas.