Que medidas poderá anunciar o Banco Central Europeu (BCE) esta quinta-feira, dia de reunião do conselho da autoridade monetária, para mitigar o impacto do coronavírus na economia? E será que Christine Lagarde, a nova líder do BCE, vai alterar o tom aparentemente passivo – de “esperar-para-ver” – que tem sido seguido nos últimos dias e que contrasta com o que têm feito outros bancos centrais? E, também, que contrasta com a atitude que, suspeitam os analistas, seria adotada por Mario Draghi (o antecessor de Lagarde)?

O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) está reunido em Frankfurt e antecipa-se que podem ser anunciadas medidas concretas, como redução dos juros ou aumento das compras de ativos, logo às 12h45 desta quinta-feira. Mas só às 13h30, hora de Lisboa, é que Christine Lagarde se irá sentar ao lado do espanhol Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, para a habitual conferência de imprensa. Aí, o banco central poderá anunciar mais medidas cirúrgicas mas, sobretudo, a forma como Lagarde irá comunicar com os mercados financeiros irá fazer toda a diferença.

Em nota de análise distribuída pelos investidores, esta manhã, o ING escreve que “a conferência de imprensa desta quinta-feira será totalmente dominada pelo impacto do coronavírus na economia da zona euro, a turbulência nos mercados financeiros e como o BCE vai reagir a tudo isto”, diz o ING, lembrando que nem valerá a pena ligar muito às previsões macroeconómicas atualizadas que vão ser divulgadas, porque estas foram elaboradas a partir de uma “fotografia” tirada à economia há duas semanas, antes, por exemplo, das medidas agressivas que foram tomadas em Itália.

Depois de tanto a Reserva Federal dos EUA como o Banco de Inglaterra terem anunciado medidas já nas últimas semanas, o ING considera que “o BCE sob a liderança de Christine Lagarde, em contraste, até ao momento tem parecido menos sensível ao que acontece nos mercados financeiros do que Mario Draghi, o antecessor”. Até ao momento, os únicos comentários feitos por Lagarde foram no sentido de aconselhar os governos a tomarem medidas para evitar uma crise cuja gravidade pode ser comparável ao colapso financeiro de 2008.

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Apesar disso, “o BCE liderado por Lagarde parece estar a assumir uma postura de esperar para ver, o que contrasta com aquilo que, na ótica do ING, um BCE ainda liderado por Draghi já estaria a fazer no meio de uma crise desta gravidade. Draghi ficou na História da zona euro pela sua garantia, prestada num discurso imprevisto a 26 de julho de 2012, de que o BCE iria “fazer tudo o que for necessário” para inverter o agravamento da crise financeira – e foi eficaz.

A realidade, porém, é que o BCE está num “dilema”, diz o ING: “há muito pouco que o BCE pode realmente fazer para amortecer o impacto económico deste choque sem precedentes, que é um choque do lado da procura e do lado da oferta em simultâneo”. As taxas de juro já estão em níveis negativos e o BCE já está a ter uma intervenção direta nos mercados com a compra de títulos de dívida pública e pacotes de dívida privada, o que ajuda a evitar eventuais apertos nos mercados monetários. Mas, fora isso, “restam poucas munições” a um banco central que ainda não tinha saído do “modo de crise” devido ao facto de as taxas de inflação continuarem demasiado baixas, mesmo antes deste novo problema.

As únicas medidas eficazes que o BCE poderia tomar seriam medidas de apoio à concessão de crédito, tal como mais compras de dívida empresarial, alterações temporárias às regras de colaterais, injeções de liquidez localizadas para incentivar os bancos a darem crédito às empresas, designadamente empresas que enfrentem dificuldades causadas pela pandemia”, diz o ING.

É certo que “a forma mais eficaz de combater este choque é através da política orçamental/fiscal” mas, mesmo que as medidas que sejam anunciadas tenham um impacto apenas momentâneo de alívio nas bolsas e nos mercados financeiros, “não fazer nada também não é uma opção para o BCE“.

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