O Portugal Fashion começou esta quinta-feira a assinalar os seus 25 anos de história, mas o cenário não podia ser mais atípico. O imponente edifício da Alfândega do Porto esteve praticamente vazio, graças à decisão de realizar o evento à porta fechada. À imprensa foi dado o acesso à sala de desfiles, num grupo de público profissional que nunca poderia ultrapassar as 170 pessoas.
Segundo a organização, neste primeiro dia, a comitiva de jornalistas e fotojornalistas não foi além das 15 pessoas, sempre com acesso limitado aos bastidores dos desfiles. Para os restantes dias, é esperada mais imprensa. Ainda assim, o número de pessoas a cobrir o evento no local não deverá ultrapassar as 30.
Ao início da tarde, Inês Torcato optou por cancelar o desfile, marcado para as 22h. “Não tomo esta decisão de ânimo leve […] mas por respeito à minha equipa, a mim mesma e a todas as pessoas envolvidas nesta apresentação, não posso, nem quero, expor ninguém a uma potencial situação de risco”, indicou a designer via comunicado”, referiu a designer via comunicado.
O calendário arrancou com o Bloom, espaço dedicado a novos talentos na área da moda, onde se apostou no formato de apresentação conjunta. Maria Meira e a dupla Unflower inauguraram esta 46ª edição. A primeira quebrou o habitual predomínio do preto com a introdução do amarelo e surpreendeu com uma linguagem menos colada ao sportswear. As segundas optaram por criar contrastes com os próprios materiais — a força da sarja e da pele em oposição à fragilidade do cetim. Já Rita Sá levou o seu menswear pragmático, com toques de streetwear, a viajar por Luanda e por uma paleta de tons terra, logo, quentes.
Seguiram os novos clássicos de Carolina Sobral, silhuetas soltas, mas que não se libertaram totalmente o guarda-roupa de trabalho feminino. João Sousa regressou com a crueza das matérias que já o caracteriza. As propostas de moda masculina de 0.9 Virus e as silhuetas volumosas e exuberantes de Ariev completaram a montra de jovens promessas do design nacional.
Tal como há um ano, Susana Bettencourt voltou a apostar no formato de performance. No Salão Nobre da Alfândega do Porto e de portas abertas para o Douro, a criadora apresentou 12 coordenados de tom interventivo. Bettencourt usou a técnica que melhor domina — o knitwear — para criar volumes, peças justas ao corpo e medidas desajustadas ao corpo, um conjunto de elementos à partida incongruentes entre si, mas que espelharam uma reflexão sobre excesso de informação e acumulação. Mais uma vez, o momento não foi alheio à questão da sustentabilidade. As peças de “Overload” recuperam desperdícios de outras produções da marca e não só.
Moda, futebol e um palco para os novos talentos. David Catalán, um “hooligan” em Milão
David Catalán também fez parte do alinhamento deste primeiro dia de Portugal Fashion. O criador espanhol, radicado em Portugal, já tinha apresentado a coleção outono-inverno 2020/21 em Milão, durante a semana da moda masculina, em janeiro, muito antes de o novo coronavírus conduzir ao cancelamento de desfiles na capital da Lombardia. Peças desportivas e elementos de alfaiataria deixaram a marca do designer na passerelle portuense.
“Searching for the perfect MG”, uma afirmação de identidade da marca Maria Gambina, encerrou o dia. Numa paleta contida, a designer brincou com camadas, falsas peças e ainda com pormenores trazidos do interior do vestuário para fora. Aos materiais reciclados, juntaram-se malhas e peças-chave como o trench coat, a canadiana, o bomber e o blusão clássico, que a criadora portuense reinterpretou à luz dos seus próprios códigos, afinal são já mais de 30 anos de carreira.
Na fotogaleria, veja as imagens dos desfiles deste primeiro dia de Portugal Fashion. Esta sexta-feira, a moda continua à porta fechada — esperam-se as apresentações de Estelita Mendonça, Pé de Chumbo, Hugo Costa, Sophia Kah, Diogo Miranda e Luís Onofre.