O novo coronavírus pode sobreviver no organismo humano durante até 37 dias, sugere um estudo publicado esta semana na The Lancet, uma das mais antigas e prestigiadas revistas médicas do mundo.

Uma análise a 191 pacientes internados em dois hospitais em Wuhan, China, concluiu que o SARS-CoV-2 sobrevive, em média, 20 dias no organismo. Mas o caso de infeção mais longo reportado até agora aponta que o novo coronavírus pode ter uma capacidade de persistência que vai até aos 37 dias. O período mais curto registado foi de 14 dias.

A equipa de cientistas liderada pelo Centro Nacional de Investigação de Doenças Respiratórias chinês avaliou a evolução de 135 internados no Hospital de Jinyintan e 56 no Hospital Pulmonar de Wuhan. Percebeu que quem sobrevivia ficava internado uma média de 22 dias; mas o tempo de internamento entre as vítimas mortais era de 18,5 em média.

Os 195 pacientes analisados eram todos maiores de idade e tinham sido tratados nesses centros a 31 de janeiro. Destes, 137 já tinham tido alta e 54 morreram. A média de idades dos participantes era de 56 anos, tendo o mais novo 18 anos e o mais velho 87. A maior parte eram homens.

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O relatório indica que 48% dos doentes que participaram no estudo sofriam de algum problema de saúde anterior que os colocava num dos grupos de risco identificados para o Covid-19. A maior parte (30%) sofria de hipertensão, 19% tinha diabetes e 8% tinha sido diagnosticado com uma doença coronária.

Na descrição que faz dos pacientes em análise, a equipa de investigadores indica que os sintomas mais comuns eram febre (aqui definida como uma temperatura corporal acima dos 37,3ºC) e tosse, mas também expectoração e cansaço. Mas 40% também tinha linfocitopenia, ou seja, tinha uma quantidade baixa de linfócitos no sangue — um tipo de glóbulo branco que participa no sistema imunitário.

Apesar de o SARS-CoV-2 ser um vírus, não uma bactéria, 95% dos doentes estudados nesta análises receberam antibióticos enquanto apenas 21% recebeu medicamentos anti-virais. Ainda assim, 98% dos sobreviventes tinha sido medicado com antibióticos, uma percentagem cinco pontos percentuais acima do registado entre as vítimas mortais.

No entanto, no que toca ao tratamento, é na administração de corticosteróides (hormonas esteroides importantes na regulação do metabolismo) e de imunoglobulina (anticorpos muito abundantes no plasma sanguíneo) que se regista uma maior diferença entre quem sobreviveu e quem sucumbiu.

De acordo com o estudo, entre os pacientes que sobreviveram à infeção pelo SARS-CoV-2, apenas 23% tinha recebido corticosteróides, enquanto essa percentagem é de 48% entre as vítimas mortais. Também apenas 7% dos sobreviventes tinha recebido imunoglobulina via intravenosa, enquanto a percentagem entre os que acabaram por morrer é de 67%.

Numa pandemia que já infetou quase 150 mil pessoas em todo o mundo, das quais quase 74 mil já sobreviveram, um estudo com 191 pacientes é demasiado pequeno para tirar conclusivas sobre como é que o vírus se comporta, mas pode dar pistas sobre a reação do organismo humano ao agente patogénico.