De um lado, os Estados Unidos de Donald Trump, a oferecer “grandes quantias de dinheiro” para poder garantir a exclusividade dos direitos de uma futura vacina. Do outro, a Alemanha de Angela Merkel, em negociações para que as vacinas e substâncias ativas possam ficar em território germânico e na Europa. No meio está a CureVac, uma gigante farmacêutica que, de acordo com o Der Spiegel, estará a entrar na fase final para poder desenvolver uma primeira vacina contra o coronavírus. E Dietmar Hopp, a figura mais falada do futebol nos últimos tempos.

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Quando era mais novo, Dietmar Hopp, que não constituía propriamente um prodígio, jogou nas camadas mais jovens do Hoffenheim, ou o TSG 1899 Hoffenheim, modesto clube numa cidade com menos de 3.500 habitantes. Há 30 anos, quando o conjunto estava no oitavo escalão germânico, fez uma doação de apenas 10 mil marcos para ajudar a formação a comprar coisas básicas como equipamentos ou bolas. A partir de 2000, tornou-se financiador do clube e nesse mesmo ano a equipa subiu à quarta divisão. E subiu, subiu, subiu, até à impensável participação na Liga dos Campeões. Agora, até à suspensão da prova, a equipa encontrava-se no nono lugar, com complicadas aspirações para chegar às provas europeias mas com uma situação controlada em relação à permanência. No entanto, o seu proprietário tornou-se um alvo dos que se definem como “puristas do futebol”.

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Nascido em abril de 1940, Dietman Hopp tornou-se bilionário após fundar a SAP SE, empresa multinacional que fabrica softwares corporativos para gerir operações e relações de negócios com os clientes da qual foi CEO até 1998, chairman até 2003 e membro da administração até 2005, altura em que saiu mantendo 10% das (valiosas) ações. No ano seguinte, e entre outros projetos profissionais, criou a Dietmar Hopp Stiftung, uma fundação de apoio ao desporto, à medicina e aos programas sociais que, segundo a Forbes, já distribuiu cerca de 635 milhões de euros, naquela que é uma das maiores fundações de caridade da Europa e que é também, a par com a Bill & Melinda Gates Foundation (outra das maiores fundações mundiais), a maior investidora da CureVac, empresa privada radicada na Alemanha que está a desenvolver vacinas para a gripe e para a malária.

Da fortuna nos softwares ao resort comprado a Sean Connery: Dietmar Hopp, a figura mais odiada do futebol alemão

Antes e pelo meio, Dietmar, filho de um líder de pelotão das forças paramilitares do Partido Nazi de Adolf Hitler, também viveu dificuldades, tendo mesmo assumido publicamente o crescimento num contexto mais humilde. “Éramos quatro irmãos, às vezes não tínhamos o que comer e tinha de carregar carvão para ter o meu dinheiro. Essa foi uma das razões pelas quais quis ser rico”, contou a propósito desse objetivo concretizado.

Casado e com dois filhos, residente em Walldorf, Hopp é também conhecido por ser o proprietário do Domaine de Terre Blanche, um resort no sul de França que comprou ao ator Sean Connery, e por ter um asteroide batizado com o seu nome pelo astrónomo Feliz Hormuth em 2008 (Asteroide 210432 Dietmarhopp). No entanto, e apesar da veia de empresário e filantropo que tanto tem vindo a contribuir para o desenvolvimento científico, a ligação ao Hoffenheim dá-lhe um lado lunar que levou a que muitos adeptos de variados clubes utilizem tarjas e cânticos a pedir a sua saída do futebol, motivando mesmo a interrupção de alguns jogos da Bundesliga.

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Dietmar Hopp beneficiou de uma exceção à regra 50+1 por parte da Bundesliga para se tornar um dos raros proprietários (a título individual é o único) com uma maioria de ações de um clube em 2015, tendo nesta altura 96% do Hoffenheim. Existem outros casos como a Bayer com o Bayer Leverkusen, o Wolfsburgo com a Volkswagen ou o cada vez mais odiado também RB Leipzig, que pertence à multinacional Red Bull, mas é o bilionário germânico que representa aquilo que os adeptos mais “puristas” consideram ser uma espécie de “venda da alma do futebol ao Diabo”. “Mantenham o futebol como um jogo do povo”, queixaram-se os adeptos do Colónia. O “gatilho” para as manifestações foi um castigo ao B. Dortmund, por tarjas e cânticos que vinham num jogo com o Hoffenheim ainda de maio. E as reações fizeram-se sentir em quase todos os estádios da Bundesliga.

“Se eu percebesse de forma remota o que estes idiotas querem de mim, seria mais fácil de perceber. Não consigo explicar porque são tão hostis comigo, lembra-me um período negro… Falar com estas pessoas? Não quero porque não vale a pena. Vivem num outro mundo. Não sei o que dizer. Porque razão não poderia ir mais a estádios? Quem faz isto é quem não deve ir”, comentou após a interrupção do recente Hoffenheim-Bayern, que terminou com os jogadores das duas equipas a trocarem a bola entre si até se esgotarem os últimos minutos. Agora, Hopp volta à ribalta por diferentes razões. Para quem gosta de ser discreto, 2020 está a ser tido menos isso.