Se a ministra da Saúde falou há dois em “aumento exponencial”, o secretário de Estado da Saúde reforçou na conferência de imprensa desta terça-feira que o país está “na fase de aceleração do contágio”. Há já 448 infetados (mais 117 do que no dia anterior), mas governo e médicos não se entendem quanto à percentagem de profissionais de saúde infetados. A Ordem dos Médicos fala em 20%, últimas contas do governo (que incidem sobre o universo de 331 de segunda-feira) refletem apenas 5,4% de médicos infetados.

O secretário de Estado da Saúde, António Sales, garantiu que”ao dia de ontem, existem cerca de 30 profissionais de saúde infetados, sendo 18 médicos”, lembrando que os “médicos, tal como outros profissionais estão sempre na linha da frente deste combate” e que “além de poderem ser infetados nos hospitais também o podem ser noutros locais da comunidade”. Estes números significam que os profissionais de saúde representam apenas 9% do total de 331 infetados registados na segunda-feira.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, tinha dito esta terça-feira que “20% dos infetados são médicos”. Questionado pelo Observador sobre a diferença de números face ao governo, o bastonário diz que limitou-se a fazer as contas quando “o sindicato independente dos médicos, que tem profissionais com informação privilegiada, avançou com o número de 50 médicos infetados, que a Direção-Geral de Saúde não desmentiu”. Além disso, lembra que há “vários casos” que não estão ainda na contabilização do governo.

Governo tem mais 1800 médicos e 1000 enfermeiros para reforçar SNS

O secretário de Estado da Saúde, António Sales, disse na conferência de imprensa que a “evolução do surto motivou a tomada de diversas medidas que visam robustecer a nossa capacidade de resposta a esta ameaça à saúde pública”. Neste momento, garante o governante, está a ser reforçado “o número de profissionais de saúde, respondendo a todas as necessidades das instituições do ministério da Saúde, que têm agora autonomia para contratação de dispensa de quaisquer formalidade“.

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António Sales revelou ainda que “foram recebidos pedidos para a contratação de cerca de 450 profissionais de várias classes, muitos já aprovados, os restantes em condições de serem aprovados por administrações hospitalares e no imediato”. O governante garante mesmo: “Neste momento temos mais de 1800 médicos disponíveis para reforçar o SNS na resposta à epidemia e mais de 1000 enfermeiros, entre outros profissionais, todos eles indispensáveis neste combate”.

O executivo lembra ainda que já se reuniu com “várias ordens profissionais” que apresentaram disponibilidade para combater a epidemia, entre “médicos, enfermeiros, biólogos, farmacêuticos, nutricionistas, psicológos, dentistas e veterinários”. O governo está “já a estudar a forma de integrar essa ajudas na resposta global ao surto, através da Direção-Geral de Saúde”.

Além disso, o secretário de Estado da Saúde garante que está a “melhorar a nossa resposta no que toca a equipamentos, formação e nos tempos de resposta do centro de contacto SNS 24“. O SNS 24, garante António Sales, “está mais forte e capaz de responder melhor”. Esta, acrescenta, “continua a ser o canal primordial de entrada de doentes com coronavírus no SNS” e na segunda-feira atendeu “um número recorde de chamadas: 13 mil.”

O secretário de Estado descreveu depois que meios tem agora:

  • 1142 ventiladores no SNS (528 nos cuidados intensivos, 480 em blocos operatórios e 134 como capacidade de expansão);
  • 250 ventiladores no setor privado (que não inclui ainda setor social nem Ministério da Defesa)
  • Mais dois milhões de máscaras e 150 mil equipamentos (aqui divididos em vários elementos, como óculos ou botas) vão ser “distribuídos ao longo desta semana”;

A diretora geral de Saúde explicou também porque não está contabilizado o caso da Madeira no boletim: “Neste boletim só temos casos completamente confirmados e que estão no sistema”. A turista holendesa deu positivo na Madeira, mas ainda aguarda contra-análise depois de um primeiro teste positivo, devendo ser essa a razão pela qual ainda não foi o caso inserido no sistema.

Graça Freitas falou ainda sobre a primeira bebé que nasceu com a mãe infetada com coronavírus em Portugal. A diretora-geral de Saúde diz que a “assistência ao parto” do bebé com a mãe infetada foi “ideal” e “nas condições ideais de isolamento”, e por isso espera que “como a maior parte dos artigos indicam, esperamos que a criança não tenha nascido infetada”. E recorda: “O que sabemos é que a maior parte das crianças não nasce infetada, mesmo que a sua progenitora esteja. Vamos aguardar. Estão num ótimo hospital, num sítio certo para que tudo corra bem.”

As conferências de imprensa conjuntas da DGS com o governo vão passar a ser feitas a partir de agora, sempre por volta das 12h00, acompanhando a saída do boletim diário.