“Tomando por referência os mais virtuosos valores da centenária instituição, bem como de todos aqueles que para si sempre foram ídolos, julgou nela poder continuar a crescer pessoal e profissionalmente com a necessária segurança e estabilidade. Valores que nos últimos meses viu ruir, com a certeza que com o estado atual das coisas o seu temor, medo e insegurança são irreversíveis. O que, muito a contragosto e com uma infinita mágoa, obriga o signatário a decidir-se pela desvinculação contratual com esta SAD. Os adeptos, simpatizantes e sócios da instituição não podem nem ser inflamados, nem ‘arremessados’ pelos dirigentes contra aqueles que diariamente trabalham em prol do engrandecimento da mesma, unicamente para gáudio e ego (desses dirigentes). Assim, num ápice, os atuais dirigentes da SAD do Sporting Clube de Portugal conseguiram destruir um sonho que o signatário veio alimentando e construindo até aos 19 anos de idade (…)

A carta de rescisão de Rafael Leão

Nos três dias seguintes em que o signatário permaneceu na Academia do Sporting em Alcochete não conseguiu sequer dormir ou reagir. As cenas de dia 15 atormentavam-no a cada instante. Decidiu sair e refugiar-se na cada do pai, António Leão. Por ter identificado um dos agressores, o temor adensa-se em cada dia que passa e a verdade é que, nos dias de hoje, acorda em sobressalto e teme sair à rua. Por muito que tente convencer-se da possibilidade, a verdade é que não vai conseguir voltar mais ao local onde passou oito anos da sua vida, que apesar de ter sido a casa que o acolheu, foi onde passou pela experiência mais traumática que alguma vez possa ter memória. Nem nos dias em que a fome tanto o atormentou.”

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A 14 de junho, Rafael Leão foi o nono e último jogador do Sporting a rescindir de forma unilateral o contrato com a equipa verde e branca, numa carta que apresentava parte da base que Rui Patrício e Daniel Podence tinham usado nas suas revogações de vínculo mas adotava também alguns argumentos próprios supracitados. A seguir, o jovem jogador assinou pelo Lille. A custo zero. No verão, foi transferido para o AC Milan. Por 30 milhões de euros. Agora, quase dois anos depois, perdeu no Tribunal Arbitral de Desporto. E alguém terá de pagar.

A carta de rescisão de Rafael Leão com o Sporting, do desequilíbrio e ego dos dirigentes ao trauma maior do que a fome

O Sporting confirmou à CMVM que ganhou a queixa que tinha apresentado ao órgão, tendo assim a receber 16,5 milhões de euros do jogador depois de o processo ter já passado pela FIFA que, na altura, julgou não ser competente para avaliar porque já estava a decorrer a ação no Tribunal Arbitral de Desporto. Ainda assim, o valor fixado acabou por descer de forma considerável em relação ao pedido do clube lisboeta, acima dos 45 milhões.

Em paralelo, Rafael Leão terá também de receber 40 mil euros, numa queixa apresentada pelo jogador ao TAD por assédio moral onde pedia uma indemnização do conjunto verde e branco de 100 mil euros.

De referir que o jovem avançado agora no AC Milan era, a par de Rúben Ribeiro (hoje no Gil Vicente, depois de ter passado pelo estrangeiro), um dos dois casos ainda por resolver entre os nove atletas que rescindiram com o Sporting: Bruno Fernandes, Battaglia e Bas Dost voltaram a Alvalade assinando novos contratos; William Carvalho foi o primeiro a ser vendido ao Betis, num acordo que teve a base de 16 milhões de euros mais cláusulas por objetivos; seguiram-se Rui Patrício (18 milhões do Wolverhampton, dos quais quatro foram para a Gestifute), Gelson Martins (22,5 milhões, do Atl. Madrid) e Podence (sete milhões, Olympiacos).