Esta sexta-feira foi o pior dia — 4.946 novos casos registados em apenas 24 horas — e consolidou a posição de Espanha como terceiro país mais afetado pela pandemia em todo o mundo. São quase 25 mil infetados com o novo coronavírus e 1.612 mortos a lamentar, e as más notícias são que a tendência não é para melhorar — bem pelo contrário, já avisaram Pedro Sánchez e o ministro da Saúde, Salvador Illa: “O pior está para chegar”.

Em Madrid, três hospitais pelo menos — Severo Ochoa de Leganés, Infanta Leonor de Vallecas e Coslada — já colapsaram e não aceitam mais doentes: têm tantas pessoas à espera de serem vistas por um médico como em internamento, avançou este sábado de manhã o La Razón.

Nos últimos 12 dias, só 37 pacientes, internados nos cuidados intensivos de todos os hospitais da capital espanhola, tiveram alta. Em alguns deles, também nos últimos dias, foram admitidos dez doentes em apenas 6 horas, acrescenta o diário. Só em Madrid, já foram confirmados quase 9 mil casos de infeção e já morreram mais de 800 pessoas.

Desde as urgências, cheias de pacientes com sintomas consonantes com o novo coronavírus, às unidades de cuidados intensivos, passando pelos pisos de internamento e de medicina interna: todas as camas e macas estão ocupadas, não há forma de assistir mais ninguém. A situação é de tal forma grave que já há pessoas a preferirem usar as economias de vida para darem entrada em hospitais privados, descreve o jornal espanhol, referindo o caso concreto de um homem, já com sintomas acentuados, que saiu do Hospital Severo Ochoa diretamente para o banco.

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Para tentar aumentar a capacidade de assistência, a Unidade Militar de Emergências vai montar, no recinto da Feira de Madrid, um hospital de campanha com mais 5.500 camas — 500 para doentes que precisem de cuidados intensivos. E ainda este sábado deverá aterrar em Madrid um avião da Air China com uma encomenda de um milhão de máscaras, doadas ao país por Ren Zhengfei, presidente e fundador da Huawei. De acordo com a imprensa, o equipamento de proteção estaria a ser guardado para os funcionários e familiares da gigante chinesa, que continua na corrida ao 5G naquele país, mas dada a diminuição de casos de infeção na China, Zhengfei terá achado por bem oferecê-las a Espanha. Sandra Ortega, filha do dono da Zara, anunciou que vai fazer o mesmo e doar igual quantidade de máscaras, mais 5 mil fatos protetores, ao país.

Enquanto isso, há engarrafamentos com espanhóis que vão de fim de semana

Quase uma semana depois de declarado o estado de emergência no país, esta sexta-feira as principais cidades espanholas registaram engarrafamentos pouco condizentes com a ordem de isolamento dada à população, com centenas de pessoas a tentarem chegar às suas casas de fim de semana.

Este sábado, a Direção-Geral de Trânsito avisou que vai reforçar os controlos junto às principais vias de saída das grandes cidades, para evitar este tipo de deslocações, proibidas em tempo de quarentena.

As autoridades espanholas não têm tido mãos a medir desde que no passado sábado foi emitido o decreto real que colocou o país em estado de emergência. Apesar dos números que não param de subir, muitos espanhóis recusam-se a ficar em casa e há relatos de igrejas que continuam a reunir fiéis e de bairros onde se continuam a fazer festas.

Só no País Basco, a partir de terça-feira, altura em que a polícia decidiu dar por terminado o período de sensibilização da população, foram detidas 65 pessoas e passadas 2.338 multas por desrespeito às medidas de isolamento e por resistência às autoridades. Em Espanha, ao contrário do que acontece em Portugal, estão estritamente proibidas as saídas de casa para fazer exercício físico e a utilização de automóveis, salvo em casos de extrema necessidade.

Em Madrid, contabiliza o El Mundo, também já foram passadas mais de três mil multas em apenas seis dias. “A maioria das pessoas está ciente e cumpre as restrições, mas o engenho dos outros atinge limites que são difíceis de explicar em alguns casos”, disse fonte da policia municipal ao jornal.

Uma família rasgou o talão de uma só compra em vários pedaços, para todos terem pretexto para andar na rua; um homem, com roupa de corrida, foi multado por ir pôr o lixo num contentor a 5 quilómetros de casa; um trio de jovens foi apanhado numa praça a beber cerveja e a partilhar um charro. “Precisamos de ar puro”, terão sido as últimas palavras que proferiram antes de receberem o auto da polícia.

Estão longe de ter sido os mais descarados: um homem, detido a meio da noite na rua, sozinho, explicou que vinha de um prostíbulo, onde tinha ido “dar trabalho às mulheres”. Já um casal, apanhado a ter sexo no carro, apenas dois dias depois do início do estado de emergência, justificou-se assim: “Em casa há tanta gente que não conseguimos ter intimidade”. Todos foram multados.