*Em atualização
Um cruzeiro com 27 passageiros de nacionalidade portuguesa – o MSC Fantasia – acostou este fim de semana no Porto de Lisboa, pelas 9 horas deste domingo. Os cidadãos com nacionalidade portuguesa foram submetidos a teste à Covid-19 e, contrariamente à informação inicial que dava conta de que todos tinham testado negativo, um passageiro está infetado. “Um dos passageiros portugueses que desembarcaram teve teste positivo”, disse Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, na habitual conferência de imprensa de ponto de situação, esta segunda-feira.
“Por princípio de precaução, na última noite foram tomadas medidas de isolamento dentro do barco pelas autoridades competentes, que determinaram medidas de isolamento dentro do navio. Não estava previsto fazer testes a todos os passageiros, um deu positivo, vamos repetir”, acrescentou Graça Freitas, esclarecendo então que o teste ao português em questão será repetido e que não estava previsto testar todos os passageiros, mas apenas os portugueses que tinham intenção de desembarcar, ao contrário de algumas informações avançadas durante o dia de domingo que dava conta da despistagem aos cerca de 2 mil passageiros a bordo do cruzeiro.
Ao Observador, a Polícia Marítima garantiu que todos os passageiros portugueses já abandonaram a embarcação “e seguiram para os seus destinos”. Os restantes passageiros, de nacionalidade estrangeira, permanecem no cruzeiro. Havia 39 pessoas que poderiam sair do cruzeiro caso o teste desse negativo (27 passageiros portugueses e 12 cidadãos que têm autorização para residir em Portugal).
A diretora-geral do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) já tinha garantido que todos os passageiros vão ser submetidos a testes de despistagem e que os portugueses, tendo análise negativa, poderiam voltar a casa (cumprindo o período de 14 dias de isolamento profilático em casa).
Durante a tarde deste domingo, alguns membros do SEF e do INEM entraram no navio para fazer despiste à temperatura dos 27 passageiros portugueses e dos que têm autorização para residir em Portugal — à semelhança do que está a acontecer nas fronteiras terrestres.
Os passageiros entraram individualmente numa sala, foi-lhes medida a temperatura e depois saíram um a um, ao lado de um elemento do SEF, que os encaminhou para a entrada do edifício do porto de cruzeiros. É nesse edifício que são recolhidas as amostras de mucosa e saliva, através de uma zaragatoa. Os testes serão depois encaminhados para laboratório e os resultados só serão conhecidos entre 4h30 a 5 horas depois. Entretanto, os passageiros portugueses ficam a aguardar no edifício do porto.
Cristina Gatões, diretora nacional do SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, já tinha dito à SIC que o processo de desembarque dos portugueses ia demorar o tempo que fosse necessário para a Direção-Geral de Saúde “fazer os procedimentos de início dos testes e obtenção do resultado em segurança“.
“A indicação que temos é que isto demorará cerca de cinco horas, mas os testes têm de ser feitos com toda a segurança para que a DGS possa confirmar a cada um destes portugueses que o podem fazer em segurança e que vão regressar às suas casas e às suas famílias, cumprindo o isolamento a que todos estamos obrigados”, acrescentou a responsável.
Quanto aos outros passageiros, cerca de 1.300, Cristina Gatões esclareceu que “todos os cidadãos que estão neste navio, para poderem desembarcar, terão de ser sujeitos a testes de despistagem, por parte da DGS”. Alguns dos passageiros têm vindo à varanda falar com os jornalistas presentes e garantem que ninguém a bordo está a “passar mal” ou doente.
Ao Observador, Deise Quinta, mãe de uma passageira (e filha de outra) explicou que a filha lhe tinha dito por mensagem que havia “alguma tensão a bordo”, sobretudo entre os passageiros que não têm nacionalidade portuguesa e a quem não foi dada a garantia – como terá sido dada à filha desta mulher – de que sairiam do navio ainda no domingo.
No cruzeiro que acostou esta manhã em Lisboa, encontram-se 1.338 passageiros e 1.247 membros da tripulação, de 50 nacionalidades. Além dos 27 portugueses, estão passageiros provenientes de 38 países (maioritariamente da União Europeia, Reino Unido, Brasil e Austrália). Na origem da tensão estará a discrepância no momento do teste — os portugueses podem ser feitos no domingo, enquanto as restantes nacionalidades terão de esperar por terça-feira.
“Esta tarde, os cidadãos portugueses e os titulares de autorização de residência em Portugal farão os testes de despistagem de vírus SARS-CoV-2, podendo desembarcar se os resultados forem negativos. As autoridades de saúde prestarão localmente todas as informações sobre o Estado de Emergência em vigor e a necessidade de quarentena”, diz o ministério da Administração Interna.
Já os restantes passageiros terão de esperar mais dois dias. “A partir de terça-feira, e depois de verificados todos os procedimentos de autorização por parte da autoridade de saúde, desembarcarão os restantes passageiros do navio, que, em trânsito, serão escoltados ao aeroporto Humberto Delgado para voos humanitários de regresso aos seus países de origem”, conclui o ministério liderado por Eduardo Cabrita. Esta terça-feira, o Governo confirmou o início da operação de repatriamento.
Passageiros de cruzeiro acostado em Lisboa repatriados esta terça-feira em quatro voos
Até ao momento, e já a navegar há 10 dias em alto mar, não existe nenhum passageiro com COVID-19 a bordo, ou mesmo algum caso suspeito”, afirma o Porto de Lisboa.
Passageiros nacionais vão estar 14 dias em quarentena em casa
Depois de saírem do navio, os passageiros portugueses terão de fazer uma quarentena obrigatória de 14 dias, em casa. Os restantes terão de esperar pela disponibilidade dos voos que vão levá-los de volta ao país de origem. O Porto de Lisboa explica que “os passageiros vão sair do navio” para o aeroporto de Lisboa “apenas mediante a disponibilidade dos voos“.
Já os restantes passageiros “permanecerão sempre a bordo”, sendo que a disponibilização das viagens vai ser facultada às autoridades portuguesas e, designadamente, à Autoridade da Saúde, “logo que esteja disponível, com a confirmação das companhias aéreas”.
Em comunicado, o Porto explica que e “o navio manter-se-á atracado, à disposição das autoridades nacionais, para as vistorias ou questionários que se entendam necessários e ainda consulta de todos os relatórios, certificados e informações necessárias”.
A saída do porto para o aeroporto de Lisboa será feita em autocarros, “sendo evidentemente cumpridas todas as determinações recebidas das autoridades portuguesas”, diz a administração do Porto de Lisboa, acrescentando que “a tripulação permanecerá a bordo”.
O MSC Fantasia saiu do porto do Rio de Janeiro a 9 de março, tendo como destino a Europa. O último porto em que escalou foi o de Maceió, Brasil, a 13 de março de 2020, e desde essa data tem estado a navegar em direção a Lisboa. Toda esta operação está a decorrer pelo Ministério da Administração Interna em articulação com diversas embaixadas dos países que representam as restantes nacionalidades a bordo.
“Tendo em conta o Estado de Emergência e fazendo cumprir as determinações vigentes, de modo a assegurar a saúde pública, a Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a Autoridade Nacional da Aviação Civil, a Direção Geral da Saúde, a Polícia de Segurança Pública, a Polícia Marítima, a Autoridade Tributária e a ANA – Aeroportos de Portugal, iniciam hoje uma operação conjunta, que decorrerá ao longo dos próximos dias, para o repatriamento de 1.338 passageiros que se encontram no navio de cruzeiro MSC Fantasia, proveniente do Brasil”, pode ler-se em nota à comunicação social enviada pelo Ministério da Administração Interna.