Quando na semana passada o Comité Olímpico Internacional (COI) emitiu um comunicado com mais de 20/25 parágrafos dizendo que, a quatro meses do início dos Jogos, era ainda precoce adiar a maior competição mundial de desporto, os sinais de alarme começaram a soar. Até porque parecia que por cada questão que ia aparecendo surgia uma possível resposta sem haver resposta para a principal questão: como seria possível superar o tempo que o mundo vive, com 20% da população global isolada e os atletas sem condições para se prepararem?
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Seguiram-se os pedidos, que iam apertando a malha. O Canadá e a Austrália chegaram-se à frente em forma de antecipação e anunciaram que não marcariam presença caso os Jogos se realizassem mesmo. Muitos outros Comités Nacionais, incluindo o de Portugal, reforçaram o pedido de adiamento. As associações de atletas vieram explicar as dificuldades para trabalharem e uma sondagem reforçou uma opinião esmagadora: quase 80% dos atletas contactados num estudo pediram para não haver Jogos a 24 de julho. O rol de argumentos podia continuar mas a ideia era transversal. Deixou de ser uma questão de como, passou a ser uma questão de quando.
Dick Pound, decano membro do COI, já tinha dado um primeiro passo para o cenário inevitável, assumindo ao USA Today que os Jogos seriam adiados. Agora chegou uma espécie de último capítulo da novela com o fim mais do que conhecido: Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão, pediu ao COI para adiar os Jogos Olímpicos por um ano, passando assim para 2021 em data ainda a definir (mas no verão). A informação foi avançada pela cadeia NHK, que explica que esse pedido foi feito numa conversa telefónica esta terça-feira, dia em que estava marcada já uma videoconferência para analisar as melhores datas para reajustar todo o calendário. Uma hora depois, o mesmo Shinzo Abe disse aos jornalistas que Thomas Bach, líder do COI, aceitou esse pedido.
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De recordar que, este domingo, o COI tinha dado também um primeiro passo nesse sentido, dizendo que estaria a estudar a melhor solução no próximo mês. Agora, com a sucessão das reações, a ideia passa por enfrentar o mais rapidamente a questão tendo a alternativa devidamente consolidada. Os três cenários possíveis tinham os seus prós e contras entre outono de 2020, 2021 e 2022 mas tudo aponta para que os Jogos sigam o exemplo de outras grandes competições como o Campeonato da Europa ou a Copa América, que saltaram um ano essas provas por forma a terminar as provas nacionais – mexendo depois noutras provas que estavam marcadas para 2021, como a Liga das Nações (que teve apenas uma edição, ganha por Portugal) ou o Europeu Sub-21. Na confirmação oficial, o período temporal ficou definido: depois de 2020 mas nunca depois do verão de 2021.
“O presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, tiveram uma conferência por telefone esta manhã para discutir a constante mudança de contexto tendo em conta a Covid-19 e os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. A eles juntaram-se Mori Yoshiro, presidente do Comité de Organização de Tóquio-2020, Hashimoto Seiko, Ministro Olímpico, Koike Yuriko, governador de Tóquio, John Coates, presidente da Comissão de Coordenação do COI, Christophe De Kepper, Diretor Geral do COI e Christophe Dubi, Diretor Executivo do COI para os Jogos Olímpicos.
O presidente Bach e o primeiro-ministro Abe expressaram as suas preocupações mútuas sobre a pandemia global da Covid-19, o que tem feito nas vidas das pessoas e o impacto significativo que está a ter na preparação global dos atletas para os Jogos. Numa reunião muito amigável e construtiva, os dois líderes louvaram o trabalho feito pelo Comité de Organização de Tóquio-2020 e notou grandes progressos na luta do Japão contra a Covid-19.
A amplitude deste surto sem precedentes e imprevisível viu a situação deteriorar-se no resto do mundo. Ontem, o Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a pandemia da Covid-19 está a acelerar. Há mais de 375.000 casos espalhados em todo o mundo e quase em todos os países e esse número está a aumentar todas as horas.
Perante as presentes circunstâncias e baseado na informação fornecida pela Organização Mundial da Saúde hoje, o Presidente do COI e o primeiro-ministro do Japão concluíram que os XXXII Jogos em Tóquio têm de ser recalendarizados para uma data depois de 2020 mas não depois do verão de 2021, para salvaguardar a saúde dos atletas, de todas as pessoas envolvidas nos Jogos Olímpicos e da comunidade internacional.
Os líder concordaram que os Jogos Olímpicos de Tóquio podem permanecer como um farol de esperança para o mundo durante estes tempos conturbados e a chama olímpica pode ficar como a luz ao fundo do túnel no momento em que o mundo se encontra no presente. Assim, ficou acordado que a chama olímpica vai ficar no Japão. Ficou também acordado que os Jogos continuarão a ter o nome de Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020.”