Foi uma conferência de imprensa com perto de duas horas que serviu para quase tudo. Donald Trump admitiu este sábado que o pior ainda está para vir e que ainda “vai haver muitas mortes“, para alguns minutos depois dizer que está a pensar aliviar as restrições impostas em praticamente todos os estados para permitir que os americanos possam, de alguma forma, ir à missa no domingo de Páscoa. Tudo isto no dia em que os EUA, de acordo com as contas da Universidade Johns Hopkins, ultrapassaram os 300 mil infetados e os 8 mil mortos por causa da pandemia da Covid-19.

Esta vai ser, provavelmente, a semana mais dura. Entre esta e a próxima semana vai haver muitas mortes, infelizmente. Mas menos mortes do que se isto não fosse feito, mas vai haver mortes”, disse Trump no início da conferência de imprensa, referindo-se à decisão de proibir a exportação de equipamento médico para o estrangeiro. “Todas as decisões que estamos a tomar são para salvar vidas. É a nossa única consideração. Queremos salvar vidas. Queremos perder o mínimo de vidas possível”, disse o Presidente dos EUA, elogiando os esforços “incríveis” que estão a ser feitos em vários estados, como Nova Iorque, Texas e Louisiana para a construção de hospitais de campanha.

Trump acrescentou que o país vai continuar a usar “todos os poderes, todas as autoridades, todos os recursos” para manter a população “saudável e segura”. “Queremos acabar com esta guerra. Temos de voltar ao trabalho. Temos de abrir o nosso país outra vez. Não podemos continuar com isto meses e meses e meses. Temos de abrir o nosso país outra vez. Este país não foi feito para isto. Poucos foram”, disse Trump.

EUA. Trump admite que vem aí “a semana mais dura” e prevê “muitas mortes” nos próximos dias

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O Presidente dos EUA aproveitou também a conferência de imprensa para criticar “certos meios de comunicação social” por estarem a “espalhar rumores falsos e a criar medo e até pânico nas pessoas”. Recusando dizer a que meios de comunicação se referia, Trump deixou claro que se referia “aos mesmos de sempre” — incluindo a imprensa mainstream como a CNN ou o The New York Times. “Não sei de que é que estão à procura. É tão mau para o nosso país. As pessoas percebem isso”, disse, pedindo: “Deixem isto passar e depois regressem às vossas notícias falsas”.

10 mil ventiladores armazenados

O Presidente Donald Trump revelou ainda que o governo federal vai enviar “alguns” dos dez mil ventiladores que existem armazenados a nível central para Nova Iorque. Ao mesmo tempo, Trump anunciou que deu ordem para que mil elementos das Forças Armadas fossem mobilizados para apoiar nos cuidados de saúde na cidade de Nova Iorque. “É a zona mais quente”, disse Trump. Os números mais recentes mostram que já morreram 3.565 pessoas no estado de Nova Iorque, onde há 113.806 casos de contágio confirmados.

Os Estados Unidos registam atualmente um total de 301.902 casos de Covid-19 e 8.175 mortes na sequência da infeção, de acordo com a contabilização oficial da Universidade Johns Hopkins. Relativamente aos números de sexta-feira, trata-se de um aumento de 23.949 novos casos e 1.023 mortes nas últimas 24 horas. Os EUA são também o país com mais doentes em estado grave, internados em cuidados intensivos, com 8.350 nesta situação.

No entanto, segundo Trump, este cenário podia ser “muito diferente” se não tivesse tomado a decisão de impedir a entrada de pessoas vindas da China “desde muito cedo”. Na conferência de imprensa, lembrou os jornalistas de que o candidato democrata à Presidência dos EUA Joe Biden o veio apoiar. “Notícia de última hora na noite passada”, disse Trump. “O provável candidato presidencial democrata vai ser Joe Biden, e ele concordou que eu estive correto ao impedir a entrada de pessoas vindas da China desde muito cedo.” Donald Trump acrescentou que, na altura, foi acusado de ser “xenófobo e racista”.

Trump recomenda uso de máscaras aos americanos – mas recusa usar uma

O Presidente dos EUA voltou nesta conferência de imprensa a insistir na ideia de tratar os doentes com hidroxicloroquina, um medicamento usado para tratar a malária e o lúpus. Sublinhando que há estudos que apontam para o facto de que os doentes com lúpus não contraem o coronavírus, Trump afirmou que já falou com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no sentido de obter “as quantidades que encomendámos”.“Vai ser um presente dos céus se funcionar”, afirmou Trump, depois de perguntar: “O que temos a perder?” Não há, porém, provas definitivas da eficácia deste medicamento no tratamento da Covid-19.

Alívio de restrições na Páscoa?

Na final da conferência de imprensa na Casa Branca, Donald Trump admitiu a possibilidade de estudar um eventual levantamento das restrições à liberdade de movimentos durante o período da Páscoa — por lamentar ter de assistir às celebrações religiosas “através de um portátil“.

“Amanhã é Domingo de Ramos. Pensem nisso. Não vamos às igrejas no Domingo de Ramos. Mas pensem no próximo domingo: Páscoa. Pensei nisto antes, talvez possamos abrir uma exceção para as igrejas. Talvez possamos falar disso. Talvez possamos permitir as missas com uma grande distância, na rua, no domingo de Páscoa. Não sei, é algo de que devíamos falar. Mas alguém me disse: ‘Mas isso significa que estamos como que a abrir exceções, queremos arriscar naquilo que estamos a fazer tão bem?’”, disse Trump, sem deixar claro o que pretende fazer.