É certo que os números nem sempre explicam tudo sobre a Covid-19 mas, por paradoxal que pareça, muitas das explicações sobre a Covid-19 estão nos números. E os números esta sexta-feira nos Estados Unidos tiveram o condão de pedir explicações: o país teve pelo quarto dia consecutivo o maior número de mortes em 24 horas, num total de 1.094, e conta com quase 30 mil novos casos, quatro vezes mais do que os números registados por exemplo em Espanha, país na Europa que teve o maior crescimento bruto esta sexta-feira.

Também por isto, o habitual briefing de Donald Trump era mais aguardado do que é normal e acabou por passar rapidamente à manchete dos principais jornais internacionais e por três pontos distintos: 1) o Presidente americano vai invocar a Lei de Produção de Defesa para “proibir a exportação de qualquer material de saúde por atores sem escrúpulos e aproveitadores”; 2) continua a passar a bola aos governadores para decidirem as medidas a tomar para combater a pandemia; 3) existem novas orientações da Casa Branca, seguindo o Centro dos Estados Unidos para Controlo e Prevenção de Doenças, que aconselham o uso de máscaras “não médicas” – sendo que o próprio líder do país ressalva que é voluntário e que o próprio não tem intenção de fazê-lo.

Ao anunciar que os EUA deixariam de exportar “qualquer material de saúde”, Donald Trump destacou que especialmente protegidos pela Lei da Produção de Defesa estarão os ventiladores, as máscaras N95, as máscaras cirúrgicas, as luvas e outros equipamentos de proteção individual. “Precisamos desses itens imediatamente para uso no nosso país, temos que tê-los“, afirmou o Presidente dos EUA, depois de deixar acusações quem tenta fazer lucros “sem escrúpulos” com a exportação de material médico.

Além disso, o Presidente dos EUA ouviu a ciência e apresentou ao país novas recomendações de saúde pública no que toca a usar máscara em público. Sublinhando que a recomendação é para que se use uma proteção não-médica — para deixar para os profissionais de saúde as máscaras com filtro de ar —, Trump fez questão de destacar que a recomendação é voluntária. “Acho que eu não o vou fazer”, disse logo depois. “Vocês podem fazê-lo. Vocês não têm de o fazer. Eu escolho não o fazer.”

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Segundo a imprensa norte-americana, o Centro dos Estados Unidos para Controlo e Prevenção de Doenças (CDC na sigla inglesa) tinha vindo a pressionar, há vários dias, a Casa Branca no sentido de Trump anunciar publicamente a recomendação: todos os americanos deveriam usar uma máscara ao sair de casa. No entanto, a Casa Branca foi resistindo a esta pressão, tendo cedido apenas nesta sexta-feira. O CDC, porém, acredita que se esta recomendação tivesse sido anunciada há mais tempo o vírus não se teria disseminado silenciosamente, como aconteceu ao longo dos últimos dias, por grande parte do país.

Sobre outra recomendação polémica — a possibilidade de uma quarentena geral em todo o país —, Donald Trump também preferiu não adotar uma recomendação nacional. Em vez disso, decidiu deixar a cada governador a decisão de implementar ou não medidas de recolhimento obrigatório em casa.

Deixo isso ao critério dos governadores“, disse Trump, acrescentando que o país já está “perto dos 90%” de habitantes submetidos a obrigação de isolamento domiciliário. De acordo com a CNN, 41 estados e o distrito federal já implementaram legislação no sentido de assegurar que todos os cidadãos ficam em casa. Sobre os restantes estados, Trump limitou-se a dizer que são estados “que não estão em risco“. Apesar de tudo, a nível federal, o governo dos EUA emitiu uma recomendação para que os cidadãos não se juntem em grupos superiores a 10 pessoas.

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