A Galp Energia suspendeu a atividade de produção de combustíveis na refinaria de Matosinhos, em resposta ao impacto da crise do Covid-19 na atividade económica e na procura de combustíveis. Sines poderá seguir o mesmo caminho, caso se esgote a capacidade de armazenar produto que não é vendido no mercado nacional nem internacional, mas para já a empresa não confirma o cenário de suspensão da principal refinaria portuguesa.

Em respostas ao Observador, fonte oficial da petrolífera adianta que foi necessário ajustar a atividade e rever o funcionamento das refinarias em resposta “aos constrangimentos no mercado nacional e internacional”. Este ajustamento “teve já impacto no complexo industrial de Matosinhos, com a suspensão provisória da atividade da unidade de combustíveis, uma das três fábricas que a Galp tem em operação naquele complexo industrial”. Esta paragem, de acordo com informação recolhida pelo Observador, terá acontecido já na semana passada.

A Galp acrescenta ainda que está a “avaliar impacto desta suspensão nos recursos humanos afetos à fábrica de combustíveis. Nesse sentido, estão a ser estudados todos os cenários para mitigar os efeitos desta decisão e garantir as opções que melhor salvaguardem o bem-estar dos seus colaboradores”.

O Observador tinha questionado a empresa sobre a possibilidade de recorrer ao lay-off em caso de necessidade de paragem das refinarias. A Galp não revelou quantos trabalhadores poderão ser afetados por esta paragem provisória em Matosinhos, nem esclareceu se a queda do mercado, e as limitações em matéria de armazenamento dos produtos refinados, que entretanto vão saindo das suas unidade, poderão levar também a uma paragem da principal refinaria do país, Sines. As empresas de refinação estão entre as principais exportadoras de Portugal, mas também num dos principais destinos das vendas, os Estados Unidos, o consumo está que queda importante.

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A empresa adianta que foi forçada a rever o funcionamento do aparelho refinador nacional também “em função nomeadamente da necessidade de ativar os procedimentos de segurança respeitantes à respetiva capacidade instalada, assegurando ao mesmo tempo que haverá um nível adequado de combustíveis para satisfazer as necessidades dos portugueses, das empresas e das fábricas”. Não há números ainda, mas as quedas de procura tem sido muito acentuadas e o preço dos combustíveis já caiu mais de 20 cêntimos por litro este ano. 

A empresa que é a única refinadora nacional diz que está “a monitorizar diariamente os impactos da evolução da pandemia”, garantindo que adequará “os planos de contingência a todas as suas atividades e infraestruturas sempre que o contexto da pandemia ou as decisões das autoridades políticas e de saúde assim o justifiquem”.

Questionada ainda sobre a dispensa de 300 colaboradores de uma empresa subcontratada em Sines, a Galp não quis comentar aquilo a que qualificou de uma decisão de terceiros. Esta situação era referida numa pergunta feita pelo Bloco de Esquerda ao Ministério do Ambiente e Ação Climática em que também se alertava para a interrupção da produção de combustíveis em Matosinhos e o risco da paragem em Sines por esgotamento da capacidade de armazenamento de produtos refinados que não estão a ser escoados para o mercado.

O deputado Jorge Costa pergunta ainda ao Governo se está a acompanhar a evolução dos stocks no mercado de combustíveis e faz o alerta para o risco de a empresa vir a optar pela importação quando a procura retomar, em vez de reativar a produção nas unidades em Portugal. Isto porque em caso de paragem, poderia recorrer ao lay-off simplificado, o que reduziria a fatura com os custos salariais.

A Galp não confirmou ao Observador se tenciona recorrer ao lay-off simplificado, embora não afaste esse cenário. Sobre a possibilidade de importar e vez de produzir combustíveis nas refinarias nacionais, a empresa refere apenas que “assegurará a todo o tempo o normal e regular abastecimento de combustíveis ao mercado nacional”.

Corte no investimento será sobretudo na produção de petróleo e gás. Dividendos cabem aos acionistas

Ainda sobre a distribuição de dividendos aos acionistas relativos aos lucros de 2019, matéria suscitada na pergunta enviada pelo Bloco de Esquerda ao Governo, a Galp diz que a proposta foi avançada pelo conselho de administração ao mercado há duas semanas, mas que caberá aos acionistas, em assembleia-geral, decidir sobre a mesma.

A empresa de gás e petróleo anunciou esta quarta-feira ao mercado que irá cortar em cerca de mil milhões de euros os investimentos e despesas operacionais em 2020 e 2021. Em resposta ao Observador detalha que cerca de 90% destes cortes resultarão do ajuste do calendário de projetos de investimento em todos os setores, mas com maior peso no upstream (produção de gás e petróleo), uma vez que é igualmente a área com maior investimento previsto.”

A Galp acrescenta que algumas destes ajustes de calendários decididos nos últimos dias ou já estão em curso e resultam de iniciativas da empresa, mas também das suas parceiras em projetos, como o caso da Exxon, petrolífera americana que adiou a decisão final de investimento no projeto Rovuma de LNG de gás em Moçambique.