A startup portuguesa que atua na área da tradução automática (aliando inteligência artificial à pós-edição humana) vai despedir 35% dos seus 250 colaboradores, avançou o Eco na terça-feira e confirmou o Observador. São mais de 80 pessoas que vão para o desemprego durante o estado de emergência e pandemia de Covid-19.
Na declaração enviada ao Observador, assinada por Vasco Pedro, a empresa diz que a “reestruturação da empresa” foi anunciada na terça-feira para “garantir a continuidade e a sustentabilidade da empresa”.
“Enquanto empresa tecnológica que opera no mercado global, com clientes em indústrias variadas, algumas das quais afetadas pela situação económica resultante da pandemia do Covid-19, tivemos de tomar esta decisão, indesejável mas infelizmente necessária”, referiu o fundador e presidente executivo.
O Observador tentou colocar mais questões à Unbabel sobre o porquê desta solução e não as alternativas (como o layoff), que tipo de impactos é que o coronavírus teve no negócio da empresa e em que escritórios decorreriam estes despedimentos, mas a empresa referiu que não ia tecer mais comentários sobre este assunto.
Num comentário público feito numa rede social, Vasco Pedro escreveu que a decisão de despedir pessoas foi “muito difícil” e que, sendo a Unababel uma startup, se rege “pela expectativa” de crescimento. “Se não tomarmos as medidas urgentes que estamos a implementar, a empresa não conseguiria continuar a operar. Dado a conjuntura actual a possibilidade de levantar dinheiro será impossível nos próximos 18 meses, pelo que infelizmente temos de tomar esta decisão”, escreveu.
A Unbabel é a startup portuguesa que obteve a ronda de investimento em capital de risco Série C (para empresas que estão a crescer exponencialmente) mais elevada: cerca de 60 milhões de dólares. Este valor é superior ao que a Farfetch angariou em 2013 (20 milhões de dólares) ou que a Feedzai angariou em 2017 (50 milhões). Em setembro de 2019, Vasco Pedro dizia ao Observador que o foco do investimento não estava na “sustentabilidade, mas no crescimento”.
Unbabel recebe 60 milhões de dólares de investimento. Vem aí um “unicórnio com asas”?
Na declaração desta terça-feira, Vasco Pedro diz que a startup fez “por proteger, da melhor forma possível, aqueles que vão ser afetados” pelos despedimentos. Assim, diz que quem for despedido terá “um pacote de indemnização acima da média”; “extensão do seguro de saúde de todos os colaboradores até ao final do ano”; “oferta dos computadores portáteis para que cada colaborador possa continuar a ter acesso uma ferramenta de trabalho”; “ajuda dos Recursos Humanos para recolocar colaboradores em novas oportunidades e “apoio aos colaboradores expatriados”.
A 10 de março de 2020, a revista americana Fast Company distinguiu a Unbabel como a terceira empresa mais inovadora do mundo em 2020 na categoria “Enterprise”. No final de dezembro, a tecnológica foi eleita a maior scaleup portuguesa de 2019, num ranking feito pela aceleradora de startups BGI em colaboração com o EIT Digital.
No mês anterior, a startup portuguesa também tinha vencido um prémio internacional na área de atendimento ao cliente, o de “Melhor Inovação em Atendimento ao Cliente”, entregue pela European Contact Centre and Customer Service Award, em Londres.
Ao Observador, Vasco Pedro tinha dito em setembro de 2019 que o investimento de 60 milhões serviria para “acelerar a expansão mundial e expandir as capacidades de Inteligência Artificial da empresa” e que estimava que o negócio fosse avaliado em mais de mil milhões de dólares (tornando-se numa empresa unicórnio) em cerca de dois ou três anos., ou seja, em 2021 ou 2022.
Quanto a um eventual IPO — sigla em inglês para quando uma empresa é admitida em bolsa — Vasco Pedro dizia que o objetivo da empresa era ser “global”. “Como parte disso, uma parte natural do percurso é fazer um IPO em algum ponto. É algo que vamos ver daqui a quatro ou cinco anos”.
Desde que foi lançada, em 2013, a Unbabel já angariou 91,2 milhões de dólares, segundo a base de dados de investimento em capital de risco Crunchbase. Tem escritórios em Lisboa, Singapura e três nos Estados Unidos (São Francisco, Nova Iorque e Pittsburgh).
De acordo com as mais recentes medidas de apoio ao tecido empresarial implementadas pelo Governo, quem optar por despedir pessoas nesta fase, “ao abrigo das modalidades de despedimento coletivo ou despedimento por extinção do posto de trabalho” deixa de poder recorrer ao layoff como medida de contenção de custos ou de ter acesso às linhas de crédito lançadas pelo Executivo para apoiar as empresas.