Teria começado na quinta-feira, dia 9 de abril, um festival de música portuguesa promovido pelo Ministério da Cultura e transmitido diariamente pela RTP. O TV Fest acabou por ser suspenso antes da estreia, na sequência de uma petição assinada por agentes culturais contra a alocação de um 1 milhão de euros a esta iniciativa.

Com a chuva de críticas e, consequentemente, com o cancelamento do festival, alguns dos artistas contratados manifestaram-se através das redes sociais. “O cachet que eu iria receber seria dividido igualmente por toda a minha equipa: músicos, agente, técnico e roadie, num total de 8 pessoas”, escreveu Benjamim no seu perfil de Instagram, ainda na noite de quinta-feira.

O músico português já havia gravado a sua participação no TV Fest, apesar de não estar incluído no alinhamento da emissão de estreia, marcada para ontem, dia 9 de abril. “Confesso que não tirei grandes conclusões políticas imediatas, liguei às pessoas que trabalham comigo a dar a boa notícia de que iriam receber um cachet inesperado, algo que tanta falta lhes faz — alguns deles, tal como muitos de vocês, não sabem como irão pagar a renda se isto se prolongar por muito mais tempo”, prosseguiu no texto partilhado publicamente.

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Petição pública e críticas de artistas levam Governo a suspender o TV Fest

Na origem do cancelamento do festival esteve uma petição que, ao final da tarde de quinta-feira, tinha já mais de 18 mil assinaturas. Segunda esta, o Ministério da Cultura “não pode, em qualquer instância, criar um festival de música portuguesa, para apoiar músicos e técnicos”, pois “não cabe ao Estado criar eventos de cultura”. Com o orçamento, a iniciativa estatal previa gravar (em casa dos artistas) e transmitir 120 concertos ao longo de 30 emissões.

Percebo que a ideia tenha muitos defeitos, e admito que alguns deles não foram óbvios na altura do convite. O que eu não percebo é a crucificação em praça pública de colegas de profissão”, acrescentou Benjamim.

O músico justifica a decisão de ter aceitado o convite do ministério e da RTP — a sua e a dos restantes artistas — com o facto de todos acharem “que estavam a receber um apoio destinado não só aos próprios mas a toda a gente que com eles trabalha”. Queixou-se dos insultos de que alguns artistas estão a ser alvo — “acho que já chega de sermos trolls da internet, podemos discutir os assuntos de uma maneira civilizada e, acima de tudo, informada”.

Marisa Liz era outra das presenças já confirmadas. A banda de que faz parte, Amor Electro, usou as redes sociais para comunicar, na quinta-feira, a “decisão de não avançar” com a participação no festival, numa altura que terá coincidido com a notícia do cancelamento do TV Fest.

Aceitámos o convite com a melhor das intenções, era uma oportunidade para repartir o valor do cachet por toda a nossa equipa de estrada […] Não participámos em qualquer outra iniciativa, nomeadamente no processo de escolha de artistas a participar no festival”, anunciou a banda.

O fadista Ricardo Ribeiro era outro dos nomes em cartaz para a primeira emissão do TV Fest, na última quinta-feira, e foi o último a pronunciar-se sobre o assunto, porém sem se alongar em comentários. “Nada tenho a justificar sobre o festival TV Fest nem a Deus nem aos Homens. Coleciono um número considerável de injustiças já vividas para poder serenar da plenitude da paz que a minha consciência e a verdade me proporcionam”, pode ler-se no texto que partilhou já na tarde desta sexta-feira.

Também Rita Redshoes expressou as suas reações à polémica num longo texto no Facebook, que entretanto deixou de estar disponível. “Eu fui uma das pessoas convidadas que aceitou participar no TV Fest. Podem crucificar-me já ou ler o meu texto até ao fim e crucificar-me na mesma”, declarou nesse mesmo texto, citado pela Blitz esta sexta-feira de manhã.

Não, não há só 120 músicos em Portugal e sim, o dinheiro não chegaria a todos, como nunca irá chegar. Mas agora pergunto-me: seria solução dividir o tal milhão por todas as pessoas do sector? Daria o quê? 3 euros a cada um, com sorte…”, referiu a cantora e compositora em resposta à onda de comentários depreciativos de que terá sido alvo nas redes sociais. “Sei que agora nem 1 euro, nem 1 milhão. Para ninguém”, rematou.

Na sua página oficial de Facebook, Rita Redshoes mantém apenas algumas linhas escritas já esta sexta-feira, a introduzir uma carta endereçada pelo pianista João Paulo Esteves da Silva à ministra da Cultura. Entretanto, alguns dos artistas confirmados para o TV Fest optaram por manter o silêncio, pelo menos até ao momento da publicação deste artigo. Entre eles estão Rita Guerra e Fernando Tordo.