Depois de ter visto rejeitada a sua proposta legislativa para impedir as grandes empresas (da banca e outras) de distribuírem dividendos durante a crise, o Bloco de Esquerda pressiona agora o Governo a impedir a Galp de distribuir os lucros pelos seus acionistas — um assunto que será discutido na reunião da Assembleia Geral do próximo dia 24, onde o Governo tem assento. A questão, alerta Catarina Martins numa crónica em vídeo publicada no site do partido esquerda.net, é que a Galp que se prepara para distribuir mais de 300 milhões em lucros é a mesma Galp que este mês “já despediu mais de 80 trabalhadores precários, só em Sines” e que já suspendeu a produção em Matosinhos.
“No dia 24 de abril, reúne a Assembleia Geral da Galp. Na agenda está a decisão de distribuição de dividendos aos acionistas. A mesma empresa que este mês já despediu mais de 80 trabalhadores precários, só em Sines, segundo denúncia do sindicato do setor, prepara-se para pagar mais de 300 milhões de euros em lucros aos acionistas“, começa por denunciar a coordenadora bloquista. Na mensagem, Catarina Martins lembra que o projeto de lei do BE que impediria este tipo de distribuição de lucros foi chumbado (pelo PS, PSD e restante direita), mas o Governo ainda vai a tempo de “corrigir” a mão.
É aí que Catarina Martins pressiona o Governo a agir. “Foi um erro que deve ser corrigido, e pode começar a ser corrigido já, na Galp”, diz, lembrando que o Estado português, apesar de não ter uma posição de controlo da Galp, tem uma participação acionista na empresa. Logo, vai estar presente na reunião da Assembleia Geral do próximo dia 24, onde essa decisão vai ser tomada. “O que se exige é que o governo dê instruções claras aos seus representantes para votarem contra a distribuição de dividendos. E, já agora, que defendam a reintegração dos trabalhadores precários despedidos”, afirma a coordenadora bloquista.
Para o BE, a decisão sobre a distribuição de dividendos “marca a resposta à crise” e não pode ser tratada como uma questão de pormenor. “Porque se é certo que há sacrifícios, é inaceitável que os trabalhadores paguem para os acionistas lucrarem com a crise”, termina Catarina Martins.
Galp suspendeu produção de combustíveis em Matosinhos. Sines pode parar se armazenamento esgotar
Tal como o Observador avançou no passado dia 8 de abril, a Galp já suspendeu a atividade de produção de combustíveis na refinaria de Matosinhos, em resposta ao impacto da crise do Covid-19 na atividade económica e na procura de combustíveis. Sines poderá seguir o mesmo caminho, caso se esgote a capacidade de armazenar produto que não é vendido no mercado nacional nem internacional, mas para já a empresa não confirma o cenário de suspensão da principal refinaria portuguesa. Ou seja, a denúncia que o BE faz de que a empresa se prepara para distribuir 300 milhões de euros em lucro pelos seus acionistas acontece numa altura em que a produção da petrolífera está a decair e, consequentemente, alguns trabalhadores estão a ser dispensados.
O Observador tinha questionado a empresa sobre a possibilidade de recorrer ao lay-off em caso de necessidade de paragem das refinarias, sendo que a Galp não revelou quantos trabalhadores poderão ser afetados por esta paragem provisória em Matosinhos, nem esclareceu se a queda do mercado, e as limitações em matéria de armazenamento dos produtos refinados, que entretanto vão saindo das suas unidade, poderão levar também a uma paragem da principal refinaria do país, de Sines.