O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, aceitou o convite da Assembleia da República e vai estar presente no sábado na cerimónia do 25 de Abril. A informação foi confirmada oficialmente ao Observador pelo Patriarcado. Uma decisão que está a ser vista pelas principais figuras da hierarquia política do país como um sinal, ao que o Observador apurou, de que a Igreja se quis por à margem da polémica dos últimos dias sobre a realização da cerimónia no Parlamento.

Os críticos da decisão de celebrar o 25 de Abril no hemiciclo, com deputados e convidados, têm usado como argumento o facto de não se ter podido celebrar a Páscoa como habitualmente, ou o de os fiéis não poderem frequentar as igrejas. Mas D. Manuel Clemente quer mesmo a Igreja na cerimónia e já comunicou à Assembleia da República que estará presente.

Foi, aliás, no final de uma reunião com o Cardeal-Patriarca esta semana, para preparar o levantamento das restrições às celebrações religiosas, que António Costa falou do “excesso de nervosismo” que tem envolvido a questão do 25 de Abril: “Estamos a chegar a uma fase em que naturalmente, por cada vez maiores necessidades económicas e sociais e por cada vez maior cansaço e fadiga relativamente às medidas de contenção, está tudo a ficar talvez excessivamente nervoso para o que é recomendável, depois da forma exemplar como temos vivido. Temos que conduzir-nos com bom senso no conjunto de todo este período”, disse na altura o primeiro-ministro.

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Costa aproveitou ainda o facto de estar à saída de uma reunião com D. Manuel Clemente, no Seminário dos Olivais, para elogiar a postura da Igreja: “Não é momento de divisões, é momento de nos mantermos unidos e de seguir o exemplo que a Igreja Católica tem dado. Relativamente a como se deve viver a fé de cada um, cumprindo as regras contra esta pandemia”, afirmou.

Marcelo deixa comitiva fora e vai sozinho à cerimónia do 25 de abril

Já o Presidente da República, cujo discurso vai encerrar as celebrações no Parlamento, decidiu ir sozinho à cerimónia do 25 de abril, num momento em que se debate a manutenção da cerimónia, com o presidente da Assembleia da República a defender que seria “completamente estúpido” fechar o Parlamento neste dia, perante críticas, sobretudo à direita, mas não só, sobre o ajuntamento que vai promover esta celebração.

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Segundo fonte oficial de Belém, Marcelo não será acompanhado, como habitualmente, pela comitiva que costuma segui-lo nestes momentos. Não irão nem o chefe da Casa Civil, o assessor político, o fotógrafo oficial ou o assessor de imprensa, por exemplo. O chefe de Estado vai só com o ajudante de campo que não entrará no hemiciclo, com Marcelo a querer contribuir para as regras de distanciamento social exigíveis nesta altura e a recomendação para evitar ajuntamentos.

Nesta última semana, a manutenção da cerimónia comemorativa foi criticada, com o ex-Presidente da República Ramalho Eanes a dizer que irá embora discorde que se mantenha a comemoração no Parlamento e Cavaco Silva, outro antigo chefe de Estado, a fazer saber que não comparecerá no Parlamento como habitualmente. Jorge Sampaio também não irá por fazer parte de um dos grupos de risco identificado nesta pandemia. Os partidos também reduziram o número de deputados presentes e foram feitas petições contra e favor da realização desta cerimónia quando o país está em estado de emergência e a maioria dos portugueses com recomendação de confinamento domiciliário.

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