Um grupo de cientistas italianos confirmou a presença do coronavírus responsável pela Covid-19 em partículas de poluição atmosférica numa zona industrial no norte de Itália, o que poderá indicar pela primeira vez a possibilidade de o vírus ser transportado pela via aérea através das partículas do ar.

Num estudo ainda em processo de revisão, cuja versão preliminar já pode ser consultada publicamente, a equipa liderada pelo investigador Leonardo Setti, da Universidade de Bolonha, afirma ter identificado a presença do vírus SARS-CoV-2 em amostras de ar recolhidas ao longo de três semanas numa zona industrial da província de Bérgamo, no norte de Itália.

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“Esta é a primeira prova preliminar de que o ARN do SARS-CoV-2 pode estar presente em partículas em suspensão, o que sugere que, em condições de estabilidade atmosférica e grandes concentrações de partículas em suspensão, o SARS-CoV-2 pode criar aglomerados com as partículas e, ao reduzir o seu coeficiente de difusão, aumentar a persistência do vírus na atmosfera“, explicam os investigadores.

Os autores do estudo salientam que as conclusões são ainda preliminares e carecem de uma investigação mais aprofundada que permita perceber a forma como o vírus sobrevive suspenso com as partículas — e de que maneira esta realidade, a confirmar-se, se relaciona com a progressão do surto de Covid-19.

Ao jornal britânico The Guardian, o investigador Leonardo Setti destacou a importância de continuar a investigar esta possibilidade. “Eu sou um cientista e fico preocupado quando não sei. Se soubermos, podemos encontrar uma solução. Mas, se não soubermos, só podemos sofrer as consequências“, disse Setti.

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Numa hipótese teórica publicada antes da divulgação destes resultados, os mesmos investigadores tinham sugerido a possibilidade de uma maior exposição da população do norte de Itália — região mais industrializada — às partículas em suspensão no ar ter sido responsável por uma maior incidência da Covid-19 naquela zona do país.

A possibilidade de o vírus poder ser transmitido pelas partículas em suspensão no ar poluído relaciona-se diretamente com a forma de transmissão do próprio vírus, tendo a Organização Mundial da Saúde já repetido que este não se transmite pela via aérea. Ou seja, o SARS-CoV-2 apenas se transmite pelas gotículas expelidas pelas pessoas infetadas, não ficando em suspensão no ar — uma informação que pode agora ser colocada em causa por estes novos estudos.