Atualmente, os EUA são o país com mais casos confirmados de pessoas infetadas com Covid-19, com 944.805 registados. A China, o país onde começou o primeiro surto na cidade de Wuhan, na província de Hubei, está já na nona posição, com 82.816 casos confirmados. Este é um número que tem crescido pouco nos últimos meses. Este sábado, por exemplo, o país afirma ter registado apenas 12 novos casos. Nos últimos dias, as contagens chinesas têm sido semelhantes. Contudo, isto pode estar para mudar. Como conta a Reuters, em Harbin, uma cidade com dez milhões de habitantes no nordeste chinês, na província de Heilongjiang, há um homem de 87 anos que foi início de uma cadeia de 78 infetados. Mais casos vêm de chineses que regressam da Rússia, que faz fronteira com Heilongjiang.

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Esta história surge numa altura em que a China tenta voltar à normalidade do país. Na semana passada, o regime chinês garantia que não houve qualquer maquilhagem do número de mortos, garantindo que “a China não autoriza encobrimentos”. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês admitiu que houve “atrasos e omissões” no registo das vítimas, mas assegurou ter havido uma “resposta irrepreensível” ao surto por parte do governo. Contudo, como noticia o El Mundo, em Harbin, logo no fim-de-semana seguinte a estas afirmações, 18 funcionários políticos foram despedidos por não conseguirem evitar este novo surto.

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Harbin é um centro industrial bastante perto da Rússia. Nas últimas duas semanas desde que a China começou a reabrir, mais de dois mil cidadãos voltaram ao país para esta província e crê-se terem trazido 400 pessoas infetadas. A pouco e pouco, numa China que quer abrir, Harbin vai fechado-se cada vez mais e as autoridades até já pagam por dois mil yuans (cerca de 260 euros) a cidadãos que avisem as autoridades se viram vizinhos que chegaram a regressar sem passar por pontos de controlo. Na Mongólia, por exemplo já há hotéis que proíbem habitantes de Harbin, como refere o The New York Times, depois de um caso confirmado que veio de Harbin.

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O medo de um novo epicentro de Covid-19 na China, ou uma nova Wuhan, existe. No caso do idoso que infetou 78 pessoas, 55 pessoas já estão confirmadas com a doença e 23 ainda estão sem saber se estão ou não doentes. Tudo aconteceu porque tinha estado em dois hospitais em Harbin desde 2 de abril e de um jantar que teve em casa. Decorrente deste casa, na província em Liaoning (que é separada de Heilongjiang por Jilin), já há um caso confirmado que vem desta cadeia.

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“Não vou nunca mais levar a minha filha ou meus pais lá fora. Se precisarmos de comida ou vegetais, deixamos o meu marido comprá-lo no caminho de volta ”, disse à Reuters uma moradora de 34 anos de Harbin, mostrando o medo que se vive. É devido a este receio que as autoridades locais estão a exigir medidas mais apertadas em Harbin: todas as pessoas que vêm do estrangeiro têm de ficar 28 dias de quarentena e fazer dois testes.

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Segundo a versão oficial das autoridades chinesas, o surto em Harbin surgiu devido a uma mulher que voou dos EUA para a China a meio de março. Terão sido feito quatro testes que deram todos negativos. Contudo, será também responsável por uma cadeia de transmissões. Como conta Zeng Guang, o principal epidemiologista do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, segundo o The New York Time, as falhas nos testes devem servir como um aviso e que não é claro por que o vírus neste caso foi tão difícil de detetar e se espalhou com tanta facilidade.

Estes casos criam problemas para Harbin. Esta quarta-feira, um dos serviços de notícias chineses, avançava que 4.106 pessoas que estiveram em dois hospitais nesta cidade ainda têm de ser testadas. Há casos de cidadãos chineses que voaram para Vladivostoque a partir de Moscovo para tentar regressar por terra ao país. É nesta fronteira com a Rússia que a China está a ter mais problemas ao ponto de já ter aberto um hospital temporário na fronteira entre Heilongjiang (a província de Harbin) e Krai do Litoral (o distrito de Vladivostoque).