A ideia, alegam os seus mentores, era tornar a praia mais segura para as crianças. Para fazê-lo, os comerciantes locais e a Junta Vecinal (conselho de bairro) de Zahara de los Atunes, em Cádis, enviaram três tratores munidos de lixívia — dois litros por cada 100 de água — para desinfetar o areal. O resultado final está mais próximo de um atentado ambiental, critica a presidente da associação de voluntários ambientais de Trafalgar, que diz que nem os insetos daquele ecossistema resistiram à desinfeção.
“Parece incrível que estas coisas ainda aconteçam, é uma loucura contra a própria praia”, disse María Dolores Iglesias, citada por vários órgãos da imprensa espanhola. “No perímetro fumigado nada é visto, nem mesmo um inseto, mataram tudo”, lamenta a ambientalista. “Não pensaram que isto é um ecossistema vivo, pensaram que é apenas terra.”
A piorar a situação, o Borrelho-de-coleira-interrompida, uma ave que deposita ovos na areia, está na época de reprodução e cerca de 20 ninhos terão sido destruídos. María Dolores Iglesias lembra ainda que depois de quase 40 dias sem presença humana, a vida animal tinha-se intensificado na praia — algo que agora se perde com a fumigação.
Fumigar con lejía playas en plena época de cría de aves o de desarrollo de la red de invertebrados que sustentarán la pesca costera y destrozar el valor turístico del litoral, no es una de las ideas de Trump. Está ocurriendo en Zahara de los Atunes ????https://t.co/afCFLg1sVG
— Greenpeace España (@greenpeace_esp) April 27, 2020
O “atentado ecológico” de que fala Iglesias continua. No areal é proibida a entrada de veículos motorizados e a a desinfeção foi feita por três tratores — os mesmos que tinham sido usados para limpar calçadas e estradas da localidade — que arrasaram a área de dunas. “A praia regenera-se e limpa-se sozinha. Isto não era necessário”, frisa a ambientalista.
A somar a todos os erros cometidos, também não foi pedida a devida autorização legal para proceder à ação de limpeza do areal o que já levou o Governo Regional de Andaluzia a dizer que vai investigar o sucedido.
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O presidente da Junta Vecinal, Agustín Conejo, acabou por assumir o erro, garantindo que tudo foi feito com a melhor das intenções: proteger as crianças que queiram passear na praia. Desde domingo passado que, em Espanha, os menores voltaram a poder sair à rua.
Já a associação de ambientalistas não ficou convencida com estes argumentos e lembra que não foi a parte urbana da praia que foi desinfetada, mas sim uma zona a dois quilómetros de distância da zona mais movimentada. A intenção, acusa Iglesias, era “tentar garantir que a área esteja livre de covid-19 para o verão”.