António Sampaio de Mattos, o presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), garante que “muito poucas atividades” não vão estar a funcionar nos centros comerciais do país já na próxima segunda-feira, dia 4 de maio. “De fora estão só a moda e a restauração — estes últimos em termos de funcionamento normal, porque podem funcionar mas só em take-away –, e as ourivesarias, a relojoarias e as lojas de brinquedos. E pouco mais”, disse em declarações ao Observador.
Ainda que faça a ressalva de que as lojas de roupa e calçado representam uma “grande percentagem” nos centros comerciais, Sampaio de Mattos recorda que vão abrir “cabeleireiros, manicures e afins, livrarias e imobiliárias”, estabelecimentos que se vão juntar aos que nunca chegaram a encerrar”. “É preciso sublinhar que os centros comerciais têm estado abertos. Estiveram a funcionar para permitir que determinados comércios, como os de base alimentar, considerados essenciais, pudessem funcionar”, explica o líder da APCC. Ainda assim, reconhece que alguns proprietários destas lojas consideradas essenciais “decidiram não abrir”, pelo que devem “aproveitar para começar agora a abrir o que não tinham feito antes”.
De recordar que, na passada quinta-feira, António Costa limitou a reabertura de comércio às “lojas com porta aberta para a rua”. “Logo a seguir às declarações do primeiro-ministro”, explica António Sampaio de Mattos, a APCC esperou pela consulta da lei, por considerar as explicações de António Costa “dúbias”, e acabou por exigir em comunicado que o mesmo comércio de rua que reabrisse de forma independente das dimensões, também reabrisse nos centros comerciais — caso dos cabeleireiros e das livrarias. “O Governo deve contemplar os lojistas dos centros comerciais na lista dos que, logo que termine o estado de emergência, serão autorizados a reabrir. Seria uma contradição e um dano adicional para os lojistas não serem autorizados a abrir quando as mesmas atividades fora dos centros comerciais vão retomar a sua atividade”, indicava, na altura, a APCC. “Falando com o Governo”, indica Sampaio de Mattos, a exigência acabou por ser alcançada.
De recordar que, nas medidas de desconfinamento aprovadas pelo Conselho de Ministros da passada quinta-feira — e para lá dos cabeleireiros, livrarias e imobiliárias –, está incluída a reabertura de lojas com menos de 200 metros quadrados e porta direta para o exterior, ou seja, de alguns estabelecimentos de comércio de rua. A 18 de maio, reabrem as lojas até 400 metros quadrados e a partir de 1 de junho, na última fase de reabertura do comércio, os centros comerciais e grandes superfícies voltam a funcionar em pleno.
Ora, a reabertura do comércio de rua, especificada pelo pormenor exigido de “porta direta para o exterior”, levanta uma questão sobre o centro comercial Freeport, em Alcochete, ou outros semelhantes — um centro comercial em que quase todas as lojas dão para o exterior. Para António Sampaio de Mattos, é “preciso agora saber interpretar a lei”. “Por um lado, é um conjunto comercial como os outros. Por outro lado, a lei fala em lojas que têm aceso direto para o exterior. É preciso perceber qual é o enquadramento e o espírito da lei. Terá de ser caso a caso, só com a consulta do Ministério da Economia é que poderá ser analisado. À partida, diria que sim, que pode reabrir porque as lojas dão para o exterior. Mas é preciso ver se não tem a ver com a rua”, defendeu o presidente da ACPP.
Sobre a possibilidade de algumas lojas que já estão autorizadas a reabrir decidirem ainda não o fazer, António Sampaio de Mattos acredita que “vão abrir todas”. “Vai ser um processo relativamente lento. Não acredito que, segunda-feira, todos os que podem vão reabrir, mas durante a semana penso que sim. Todas estão a perceber que, com este progressivo regresso, têm de começar a funcionar. Por várias razões: primeiro, porque a população está necessitada; depois, porque alguns operados já tinham mercadoria encomendada; e outros, porque precisam de fazer negócio, não é possível continuarem muito mais tempo sem encaixe financeiro porque continuam a ter despesas inerentes”, explica, revelando que várias empresas não entraram em regime de layoff.
Sobre a reabertura em pleno a partir de junho, Sampaio de Mattos garante que “vai depender de todos nós”, na medida em que o regresso ao funcionamento só acontecerá se a situação pandémica permanecer estável, e indica que as medidas de fiscalização e higienização vão ser intensificadas com o avançar das várias fases. “Hoje já temos muita preocupação com a segurança, com a higienização. Abrindo mais lojas, terá de ser intensificado. Vai aparecer mais gente e também teremos de ter mais gente a intervir em todo esse processo. É uma questão que é monitorizada dia-a-dia, conforme as necessidades. Daqui a uma semana, as necessidades serão maiores e acredito que os centros vão estar em condições de responder”, diz o presidente da APCC ao Observador.
António Sampaio de Mattos falou ainda sobre as cinco sugestões feitas pelo setor ao Governo há cerca uma semana, onde se incluía a possibilidade do prolongamento do layoff depois da reabertura. O presidente da APCC diz que “não houve nenhuma evolução nessas matérias” mas que permanece “esperançado”.