Michael Palin, membro dos Monty Python, defendeu que será “muito difícil, muito errado e muito injusto” manter todos os idosos confinados quando começar a ser adotado um relaxamento de medidas. A opinião do ator britânico, de 76 anos, surge no início da semana em que Boris Johnson vai anunciar o pacote de medidas de desconfinamento para o Reino Unido.

Em entrevista ao programa Andrew Marr Show, da BBC, Palin reconheceu que era “uma decisão difícil”. “Mas temos de ser seletivos. Há muita gente, um grande número, de pessoas com mais de 70 anos que são muito ativas, muito conscientes, que têm muitas ideias e que podem contribuir para a nossa recuperação”, começou por dizer o ator, defendendo que terá de ser feita uma distinção entre os idosos mais vulneráveis e os menos frágeis. “Acho que tratar todos como pessoas que quase têm de ser mantidas fora da vista vai ser muito difícil, muito errado e muito injusto para muitas pessoas que querem ajudar”, acrescentou Michael Palin.

Costa admite que idosos possam ficar confinados mais tempo. “Não é guetização, é proteção”

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As declarações surgem dias depois de Stephen Powis, o diretor nacional do serviço nacional de saúde britânico, ter dito que as autoridades de saúde estão a estudar a possibilidade de as restrições mais duras permanecerem em vigor para a população mais envelhecida. Apesar de Matt Hancock, o secretário de Estado para a Saúde, ter ressalvado que as pessoas clinicamente vulneráveis “não incluem automaticamente pessoas com mais de 70 anos, independentemente das condições médicas”, a verdade é que a sugestão feita por Powis está a causar polémica no Reino Unido e já motivou outras reações que não a de Michael Palin.

Também Ros Altmann, membro da Câmara dos Comuns e antiga ministra das Pensões nos governos de David Cameron e Theresa May, disse que não levantar as restrições a uma certa faixa etária enviaria a mensagem de que as vidas das pessoas mais velhas “não contam da mesma maneira”. “Acho que usar um critério baseado na idade é fundamentalmente errado e pode potencialmente custar a vida de muitas pessoas e arriscar agitação social”, explicou Altmann, acrescentando ainda que “ninguém sonharia” em aplicar restrições com base na cor da pele, ainda que a taxa de letalidade no país seja mais elevada entre as minorias étnicas.

Manuel Alegre discorda de Eanes: “Mais velhos devem resistir e lutar pela vida”

Em Portugal, foi Manuel Alegre a defender uma posição semelhante. Em entrevista ao Diário de Notícias, o histórico socialista disse “não aceitar” que os idosos fiquem confinados durante os próximos meses. “Há grande preocupação em proteger os mais idosos, mas não aceito que essa proteção signifique prender-me em casa. Já não tenho tempo para isso, nem eu nem muitos outros. Interessa-me a vida enquanto puder vivê-la como ela é. Quero ver crescer os meus netos e sabemos tomar as precauções, até autoconfinar, mas o confinamento obrigatório além de certos limites equivale a uma prisão, é inconstitucional e um atentado à liberdade”, atirou Alegre.

Antes, em entrevista à Rádio Observador, havia admitido a possibilidade de os idosos ficarem mais tempo em isolamento. “Vamos ter de manter as medidas de contenção e distanciamento até podermos viver em total segurança com o vírus, e isso só acontecerá quando houver uma vacina ou tratamento. É evidente que vamos ter de manter essas restrições e elas serão mais exigentes para quem tiver maior risco”, disse o primeiro-ministro, garantindo que não se trata de “guetização” mas sim de “proteção”.