O secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, admite que sugeriu uma empresa de um ex-sócio como uma das possíveis para realizar testes à Covid-19 na região Centro, mas nega qualquer “interesse económico” em fazê-lo. Numa nota de esclarecimento enviada ao Observador pelo Ministério da Educação, o secretário de Estado, que, por causa da pandemia, passou a coordenar a resposta ao surto na região Centro, explica que a empresa em causa tem como administrador um ex-sócio seu “numa sociedade que nada tem a ver com este sector de atividade” e da qual se desvinculou em 2015. 

Não deixa de me causar uma enorme estupefação que se possa pensar que tive algum interesse próprio nesta associação que não fosse o de que – também na CIM [Comunidade Intermunicipal] Viseu Dão Lafões – se pudesse dar uma resposta eficaz a um problema que afligia, e aflige, todo o país”, lê-se na nota.

João Paulo Rebelo foi um dos cinco secretários de Estado nomeados a 6 de abril de 2020 para coordenar a aplicação do estado de emergência em cada uma das regiões de Portugal. No domingo, o Jornal de Notícias dava conta de uma denúncia, feita num blog, segundo o qual Rebelo teria pedido ao presidente da Câmara de Viseu para “potenciar” o laboratório ALS, uma empresa do seu ex-sócio, João Cotta, de forma a fazer os testes em toda a região. O Correio da Manhã acrescentou esta terça-feira que a sugestão foi feita quatro dias depois de o secretário de Estado ter iniciado as funções relacionadas com o estado de emergência.

Em resposta a estas acusações, o secretário de Estado explica, na nota, que uma das missões enquanto coordenador “era realizar o maior número possível de testes Covid-19”, tendo sido pedido a todos os coordenadores regionais que acompanhassem o processo.

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Foi nesta sequência que, nas diversas reuniões/videoconferências que fiz com as diferentes Comunidades Intermunicipais da Região, divulgando o protocolo, elenquei sempre as diversas entidades (públicas e privadas) que nos respetivos territórios teriam capacidade protocolada de resposta para a realização dos testes”, explica.

João Paulo Rebelo refere então que “a videoconferência com todos os Presidentes de Câmara da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões não foi exceção”. O secretário de Estado admite que, nessa reunião, adiantou “que tinha conhecimento de que a empresa ALS tinha capacidade para realizar mais 200 testes diários, facto que era já do conhecimento de muitos dos senhores Presidentes de Câmara, inclusivamente do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viseu”. O coordenador aponta ainda que a empresa já estava antes de se tornar coordenador do Centro “a realizar 100 testes diários para o Centro Hospitalar Tondela Viseu”.

Referi-o, sempre, pela importância da capacidade instalada que permitia dar uma resposta célere à operação e não deixando de referir a existência de outros laboratórios privados que poderiam ser mobilizados nesta missão”, diz ainda.

Questionado pelo Observador sobre se mantém a confiança no secretário de Estado, o Ministério da Educação preferiu não comentar. O Observador questionou entretanto o gabinete do primeiro-ministro, que nomeou os cinco secretários de Estado, mas ainda não obteve resposta.