As projeções económicas da Comissão Europeia divulgadas esta quarta-feira apontam para uma contração do Produto Interno Bruto português de 6,8% em 2020, ao que se seguirá uma expansão de 5,8% em 2021. Estes são números que constam das previsões de Primavera da Comissão Europeia, que apontam para uma recessão ainda mais profunda na média da zona euro em 2020 (7,7%).

“A pandemia do coronavírus representa um choque enorme para as economias globais e europeias, com consequências socioeconómicas muito graves”, assinala a Comissão Europeia no comunicado divulgado esta quarta-feira. “Apesar da rápida e abrangente resposta política dada tanto a nível da UE como a nível nacional, a economia europeia vai registar uma recessão de proporções históricas neste ano”, continua a Comissão Europeia.

O choque para a economia europeia é simétrico no sentido em que atingiu todos os estados-membros, mas tanto a quebra no produto em 2020 (que vai desde os 4,3% da Polónia até aos 9,7% da Grécia) como a robustez da recuperação em 2021 serão muito diferentes de país para país. A retoma económica de cada estado-membro vai depender não só da evolução da pandemia em cada país mas, também, da estrutura das suas economias e a sua capacidade para responder com políticas de estabilização”.

Alguns destaques: a vizinha Espanha deverá ver o PIB cair 9,4% este ano e recuperar 7% em 2021, Itália perde 9,5% e salta 6,5% no próximo ano e a Alemanha desde 6,5% para, depois, em 2021, subir 5,9%.

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As previsões para o crescimento económico em Portugal são, ainda assim, menos pessimistas do que as emitidas no mês passado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que previram uma contração económica de 8%.

Quanto ao défice, irá disparar, segundo a Comissão Europeia, para 6,5%, atenuando-se para 1,8% em 2021. Também aqui o FMI foi mais pessimista, indicando um défice orçamental de 7,1% do PIB em 2020.

Portugal terá, de acordo com as previsões divulgadas esta quarta-feira, uma dívida acumulada de 131,6% no final de 2020, baixando para 124,4% em 2021. Neste ponto, o endividamento público português (em 2021) só será superado pelo da Grécia (196,4%) e Itália (158,9%).

A taxa de desemprego, por seu lado, irá saltar em Portugal para os 9,7% este ano, potencialmente baixando para 7,4%. O valor para este ano está próximo do que se prevê para a zona euro, em média (9,6%) mas Portugal deverá conseguir recuperar mais rapidamente nessa área, já que mesmo em 2021 a taxa de desemprego na zona euro ascenderá aos 8,6%, segundo estas previsões.

“Choque sem precedentes desde a Grande Depressão de 1929”

Confrontado com o facto de as previsões da Comissão Europeia sobre Portugal serem mais otimistas do que as do FMI, o comissário europeu da Economia, o italiano Paolo Gentiloni, disse que isso se deve a dados mais atualizados sobre a evolução do surto.

“Isto não é apenas para Portugal, mas temos de considerar que as previsões do FMI iam até uma data anterior à da comissão”, disse Gentiloni, acrescentando que as previsões da Comissão têm como data limite o dia 23 de abril.

“Nessa data, a situação da curva do surto estava estava mais clara do que quando o FMI  fez o seu forecast. Na maioria dos países já o pico [do surto] tinha sido atingido e a curva estava a alterar-se. E foi isso que nos permitiu fazer estas previsões”, salientou.

No caso concreto de Portugal, “as projeções parecem mais otimistas do que as do FMI, mas são mais pessimistas do que o consenso da projeções económicas e do que o cenário base do Banco de Portugal, bem como os cenários publicados em finais de março”, ressalvou o comissário italiano. “Estamos no meio. Entre o FMI e o consenso das projeções”.

Sobre o setor do Turismo (que representa um pouco acima dos 10% do PIB português), Gentiloni disse que a Comissão Europeia vai trabalhar arduamente para que o setor não morra no Verão que aí vem.

“Bem… temos de trabalhar para ter a garantia de que o setor vai sobreviver ao verão, apesar de sabemos que vai sobreviver em condições muito diferentes das do ano passado. A comissão está trabalhar a fundo nisto“, disse o comissário.

Também salientou que o Turismo vai ser um dos pontos principais da reunião do colégio de comissários na próxima semana. “Precisamos de estabelecer linhas de atuação e, sempre que possível, regras para coordenar a situação, porque temos diferentes tipos de turismo. Por exemplo, Portugal está mais exposto a turismo vindo do estrangeiro, o que depois mexe com os setores da aviação, com as  fronteiras, e muitas outros aspetos. Mas sim, o Turismo tem de sobreviver e vamos trabalhar a fundo nisto”.

Em termos genéricos, Gentiloni não mediu as palavras para descrever a recessão que a União Europeia enfrenta. “É agora muito claro que a UE entrou na mais grave recessão da sua história”, disse o Comissário Europeu para a Economia. E rematou: “A Europa enfrenta um choque económico sem precedentes desde a Grande Depressão [de 1929]”.