A quarentena generalizada no mundo inteiro vai provocar mais 6,3 milhões casos de tuberculose e mais 1,4 milhões de mortes provocadas pela doença do que aquilo que seria normal até 2025. Os casos diagnosticados e não tratados vão multiplicar-se durante o isolamento social e prolongar as consequências durante vários anos, atrasando os esforços globais para travar a tuberculose entre cinco a oito anos.
As contas, publicadas esta quarta-feira, foram feitas pela Stop TB Partnership em colaboração com a Imperial College de Londres, a organização Avenir Health e a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. O estudo foi realizado a partir do impacto da pandemia de Covid-19 nos serviços ligados à tuberculose em três países com um elevado número de casos desta doença (Índia, Quénia e Ucrânia) e prevê um cenário com três meses de quarentena generalizada e outros dez, consequentes, de reinício do funcionamento dos serviços.
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Em entrevista ao The Guardian, a diretora executiva da Stop TB Partnership mostrou-se “enojada” pelo facto de o mundo ir expectavelmente regressar a números de 2013. “Estou indignada porque, pelo facto de nos esquecermos de programas que existem, vamos perder tanto, a começar com a perda de vidas”, disse Lucica Ditiu, recordando que ainda só existe uma vacina contra a tuberculose em crianças e não existe qualquer vacinação para adultos.
“Tenho de dizer que, a partir da comunidade da tuberculose, olhamos para tudo isto de forma algo confusa porque a tuberculose existe há milhares de anos. Há 100 anos que temos vacina e temos duas ou três potenciais vacinas em estudo. Precisamos de cerca meio bilião de pessoas para ter a vacina até 2027 e olhamos com espanto para uma doença que tem 120 dias e tem 100 potenciais vacinas em estudo. Acho que este mundo está realmente estragado”, acrescentou Ditiu.
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A tuberculose mata cerca 1,5 milhões de pessoas por ano, mais do que qualquer outra doença infecciosa, mas os últimos anos têm verificado um declínio constante no número de casos e vítimas mortais, como resultado de mais serviços de diagnóstico, tratamento e prevenção em todos os países. Para Lucica Ditiu, todos os esforços estão agora condensados no combate à Covid-19, algo que vai ter consequências num futuro a breve prazo.
“O medo que temos, na comunidade, é que os investigadores estejam concentrados apenas em desenvolver uma vacina para a Covid-19. É isso que está na agenda de toda a gente agora e muito poucos permanecem concentrados nas outras doenças. Não temos vacina para a tuberculose, não temos vacina para o HIV, não temos vacina para a malária e, destas todas, a tuberculose é a mais antiga. Porquê esta reação? Porque somos um mundo de idiotas. O que é que posso dizer mais?”, atira a diretora executiva da Stop TB Partnership.
Na semana passada, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde assumiu que 13 milhões de pessoas ficaram sem acesso a vacinação devido às campanhas canceladas em todo o mundo graças à pandemia. “Quando a cobertura de vacinação não acontece, mais surtos vão surgir, incluindo de doenças mortais como o sarampo e a poliomielite. A trágica realidade é que, como resultado, crianças vão morrer”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus.