Já começou a ser testada em humanos a vacina para a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Pfizer em parceria com a biotecnológica alemã BioNTech. Os ensaios clínicos arrancaram nos Estados Unidos na segunda-feira e incluem 360 voluntários. Outras 200 pessoas receberão a vacina experimental na Alemanha.

A vacina da Pfizer e da BioNTech é feita por ARN mensageiro (mRNA), uma cadeia que resulta da cópia da informação genética original e que, neste caso, codifica a produção da proteína que o SARS-CoV-2 tem à superfície para se introduzir nas células.

De acordo com a página da farmacêutica americana, as células devem obedecer ao ARN mensageiro e começar a produzir essa proteína sem causar doença. Se tudo correr bem, o organismo deve perceber que esse pedaço de informação genética é estranho ao corpo e recruta anticorpos específicos para neutralizar a proteína.

Estimulando o sistema imunitário a reconhecer a “chave” que o novo coronavírus usa para entrar nas células e causar uma infeção, caso haja efetivamente uma invasão pelo SARS-CoV-2 no futuro, o organismo já terá as armas necessárias para a atacar mais rapidamente e impedir o desenvolvimento da doença.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta estratégia também está a ser utilizada pela Moderna, que também já entrou em ensaios clínicos. Em vez de usar a totalidade do novo coronavírus, a vacina usa apenas a informação genética referente à proteína com que ele entra nas células, tinha explicado ao Observador o imunologista Pedro Madureira.

Vacinas contra Covid-19 podem não resultar? O cenário é “muito frequente”, acertar à primeira “é um golpe de sorte” raro

“Quando esse ARN entra no nosso organismo, as células dendríticas, muito importantes na ativação do sistema imune, vão captá-lo e produzir as proteínas do vírus”, tal como acontece quando há uma infeção real pelo SARS-CoV-2, que obriga a célula a replicar a sua informação genética.

No entanto, a utilização de uma parte tão pequena da informação genética do vírus pode trazer resultados desanimadores. Existe a possibilidade de nem sequer estimularem o sistema imune a reagir àquele invasor porque “o organismo pode não reconhecer o ARN como sendo estranho ao corpo”, concretiza Pedro Madureira. Além disso, se houver uma mutação no vírus e essa informação genética mudar, a vacina torna-se inútil.

Os resultados dos ensaios clínicos da Pfizer e da BioNTech podem ser disponibilizados no final do próximo mês, mas caso se mostre eficaz, a vacina não chegaria ao mercado antes do final do ano, mesmo acelerando o processo de certificação da vacina.